O poderoso Marzagão

Miguel Gustavo de Paiva Torres

A Cidade do México é uma das maiores metrópoles do mundo. A área metropolitana reunia mais de 20 milhões de habitantes nos anos 90. Procurar casa ou apartamento para alugar foi uma maratona. Uma simpática senhora francesa que dirigia um velho furgão, como se estivesse em pista de corridas, foi a nossa corretora. Apesar dos pesares — só mostrava o que nunca conseguia alugar, em sua carteira de ofertas —, serviu como um tour completo da impressionante metrópole mexicana. Terminei por agradecer e dispensar a minha simpática guia e corretora. Não aceitava a possibilidade de dirigir duas horas ou mais por dia para ir e vir da embaixada para minha nova casa mexicana.

No dia seguinte lá estava ela novamente batendo na porta do meu apartamento temporário. Sorridente, disse com toda naturalidade: — Não mostrei um apartamento porque imaginei que o senhor não iria gostar. Fica ao lado da chancelaria da embaixada do Brasil.

Da ampla cozinha do apartamento podíamos ver quem entrava e quem saía da embaixada. A sala do embaixador e os jardins onde os funcionários enrolavam horas de trabalho, normalmente os fumantes, como eu.

Fiquei perplexo. Como não ia gostar? Um apartamento no meio de um bosque, em um prédio de apenas quatro andares, com um elevador que abria diretamente na sala principal, situado a menos de 50 metros do meu trabalho e a um quilometro da residência da embaixada; sempre movimentada com eventos sociais aos quais tínhamos que comparecer. Eventos sociais em embaixadas são eventos de trabalho diplomático.

Quem morava a poucos metros da residência da embaixada era um brasileiro muito conhecido e poderoso no México: Augusto Marzagão. Aquele mesmo que ficou famoso no Brasil quando organizou o Festival Internacional da Canção. Secretário de Jânio Quadros na presidência da república, jornalista, craque em comunicação social; conhecia todo o mundo político e da grande mídia no Brasil. Amigo de José Sarney, presidente que se empenhou em aproximar Brasil e México, em todas as áreas: política, cultural, artística e acadêmica.

Simpático, simples e afável, Marzagão gostava de visitar a residência e conversar com o embaixador. Participei de algumas dessas agradáveis conversas entre amigos.

O jornalista brasileiro ocupava a vice-presidência do conglomerado de mídia da Televisa, ao lado do presidente do grupo, Emilio Azcárraga, o homem mais forte do país.

Equivalente no México à Rede Globo no Brasil, a Televisa estava à frente da Globo em projeção mundial, com suas transmissões para Estados Unidos, Europa e América Latina hispânica.

Augusto Marzagão foi quem procurou Silvio Santos para fazer uma aliança de negócios entre o SBT e a Televisa. Assim chegou ao Brasil o México de Chaves e de uma série de novelas de perfil popular.

Na época, a jogada de Marzagão salvou o SBT e o império de Silvio Santos. Regressou ao Brasil, depois de décadas no México. Faleceu no Rio de Janeiro, sua última morada.

Edberto Ticianeli

Jornalista e Produtor Cultural. Ex-secretário Estadual de Cultura. Editor dos sites História de Alagoas e Contexto Alagoas.

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