Massacre em Chiapas

Miguel Gustavo de Paiva Torres
Memórias do México

Nos meus três anos de vida e trabalho no México viajei por quase todo o país; tomado de espanto e fascinação por um esplendor de paisagens naturais e arquitetônicas inigualáveis.

Não conheci Chiapas, o mais pobre e um dos mais belos estados do México, era a voz corrente.

Na época o acesso era restrito e perigoso. A guerrilha declarada e iniciada, em janeiro de 1995, pelo exército de indígenas reunidos em armas pelos jovens revolucionários zapatistas, provocou um cerco militar implacável do Governo Federal. Chiapas foi praticamente isolada do resto do território mexicano.

A identidade do subcomandante Marcos não demorou a ser descoberta pelos serviços de inteligência. Tratava-se de um jovem de 34 anos, Rafael Guillén, formado em filosofia pela Universidade Nacional Autônoma do México e professor de filosofia da Universidade Autônoma da Cidade do México.

O subcomandante Marcos era de família modesta, da pequena classe média urbana, e chegou a trabalhar, quando estudante, como dançarino no cabaré da sua tia em Guadalajara.

Um belo dia desapareceu por um bom tempo e ressurgiu na selva. Mascarado, montado a cavalo, fuzil nos ombros. Com o seu exército de indígenas realizou um ataque inaugural simultâneo a diversos municípios de Chiapas.

Um mês depois de minha chegada ao México, lendo os jornais na embaixada, em 23 de dezembro de 1997, deparei com as manchetes sobre o massacre, no dia anterior, no povoado de Acteal: 45 indígenas que se encontravam rezando em uma igreja foram chacinados por paramilitares, supostamente ligados ao PRI, partido  que completava 68 anos no poder naquele ano.

A repercussão foi bombástica. Nacional e internacional. Entre os massacrados, 16 crianças e adolescentes e 20 mulheres, algumas grávidas.

As vítimas pertenciam a um grupo comunitário, “Las Abejas”, simpatizante do exército zapatista do subcomandante Marcos.

A chacina durou sete horas. O grupo de paramilitares era conhecido como “Máscara Roja” — Máscara Vermelha.

Os militares estacionados em um posto perto da igreja nada fizeram. No dia seguinte limparam o sangue das paredes da Igreja.

Com a repercussão mundial e os protestos veementes do Bispo de Chiapas, Samuel Ruiz, residente na bela cidade colonial chiapense de San Cristóbal de Las Casas, foram presos oito ex-oficiais das forças de segurança pública, condenados a penas de pouco mais de três anos e libertados logo em seguida.

A enorme pressão internacional que atingiu o governo do presidente Ernesto Zedillo levou, posteriormente, a prisão e condenação de 22 homens.

Em 13 de agosto de 2009, a Suprema Corte do México ordenou a libertação de todos, alegando falsidade de provas e testemunhos apresentados pela acusação no decorrer do processo. Caso encerrado.

Edberto Ticianeli

Jornalista e Produtor Cultural. Ex-secretário Estadual de Cultura. Editor dos sites História de Alagoas e Contexto Alagoas.

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