Sai da frente

Miguel Gustavo de Paiva Torres

Beatriz Paredes e José Sarney realizaram trabalho efetivo pela amizade e articulação entre mexicanos e brasileiros. Beatriz, presidente do grupo de amizade México-Brasil, foi uma ativista.

Senadora respeitada e muito querida, primeira mulher governadora de um estado mexicano, Tlaxcala, Secretária Geral da Confederação dos Camponeses do México, embaixadora no Brasil, uma Frida Kahlo da política mexicana.

Fui colocado à disposição de Sarney para sua visita ao México a convite do Senado mexicano. Ele acabara de terminar um dos seus períodos como presidente do Senado.

Veio acompanhado por parlamentares brasileiros do grupo de amizade, que ele presidia, no Brasil. Entre eles, um deputado, filho do ex-senador Romeu Tuma, a quem chamavam de Tuminha.

Muito querido no México. Reconhecido nas ruas; especialmente em Guadalajara, cidade que tem afeto especial pelo Brasil, Sarney também era amigo do meu chefe na época, embaixador Francisco Junqueira, e de Augusto Marzagão, o poderoso vice-presidente da Televisa.

Nessas visitas ao México, conseguia reunir a nata da intelectualidade, academia, artes, jornalismo e cultura do México, na parceria com Beatriz Paredes.

Todos iam lá ver Sarney e Beatriz: Carlos Fuentes, Enrique Krause, Andrés Oppenheimer, Colégio de México, e outras e outros. Sempre uma festa musical. Sarney cantava repentes, emboladas, encantava.

A programação incluía uma visita ao maravilhoso sítio arqueológico de Teotihuacán, que Sarney já visitara muitas vezes, mas sempre queria voltar. Tuminha não queria ir. Queria sair livre pela Cidade do México.

Sarney preocupadíssimo pediu ao embaixador que designasse alguém para acompanhar e monitorar Tuminha. Não queria problemas. Assim foi feito.

Terminado o evento formal de boas-vindas no Senado da república, centro da cidade, lá fui eu com Sarney, motorista e dois seguranças, tipo “men in black”, em uma limusine 4×4 blindada, para o passeio em Teotihuacán.

A distância do centro para Teotihuacán é de aproximadamente 55 quilômetros. Normalmente você faz em uma hora e pouco mais. Primeiro temos que atravessar praticamente quase toda a Avenida Reforma, principal via do centro da capital.

Colocaram uma sirene no carro. Um segurança assegurando os fundos e outro assegurando a frente, com seus óculos escuros. Lá fomos nós.

Sarney não entendeu. Eu, menos ainda. Apavorados cruzamos toda a agitadíssima e engarrafada Avenida Reforma na contramão. Na contramão.

No México manda quem pode e obedece quem tem juízo. Em 25 minutos chegamos ao fantástico sítio arqueológico das pirâmides do Sol e da Lua.

Edberto Ticianeli

Jornalista e Produtor Cultural. Ex-secretário Estadual de Cultura. Editor dos sites História de Alagoas e Contexto Alagoas.

Um comentário em “Sai da frente

  • 3 de agosto de 2021 em 17:02
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    É sempre muito gostoso ler esses registros do diplomata Miguel Gustavo, registros que não podemos encontrar em livros de história

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