Grandeza e impérios do México
Miguel Gustavo de Paiva Torres
Memórias do México
O Vice-Reino da Nova Espanha foi a magnífica joia do sistema colonial do Reino da Espanha. A sua grandeza incluía o imenso território mexicano prévio à tomada de grandes extensões de terras pelas invasões armadas norte-americanas em meados do século dezenove; a capitania da Guatemala e todas as capitanias dos estados que hoje constituem a América Central.
A cobiça europeia e norte-americana sobre este gigantesco território espanhol nas Américas iria derramar muito sangue e causar terríveis dores no parto da futura República do México. A família Bonaparte se fez presente neste processo dolorido. Quando Napoleão Bonaparte invadiu a Espanha e apontou seu irmão José, novo Rei da Espanha, o sistema colonial ficou à deriva e a Nova Espanha mexicana fragilizada e abandonada.
Em 1810, o padre Miguel Hidalgo y Costilla, pároco de Dolores Hidalgo, toca os sinos de sua igreja e dá o famoso Grito de Dolores pedindo independência e república. A guerra da independência se arrasta por 11 anos e provoca terror nos ricos “hacendados” espanhóis e criollos de ascendência espanhola, apavorados com a possibilidade de que mestiços e indígenas, maioria absoluta do que seria o novo país independente, chegassem ao poder.
É assim que nasce o primeiro império mexicano. Agustín de Iturbide, general realista passa para o lado dos republicanos, arma um conchavo com os ricos “hacendados”, negocia com os generais republicanos e se torna o primeiro imperador constitucional do México independente. Logo depois dissolve o parlamento e toma em mãos poderes absolutos. O general Santa Anna, rico proprietário de terras em Vera Cruz, respeitado e popular, derruba Iturbide. Imperador por seis meses, Agustín foge para o exílio na Itália, regressa e é fuzilado.
Santa Anna e Benito Juárez são os dois grandes nomes da história do México independente. Santa Anna foi presidente do México por onze mandatos intermitentes, sempre enfrentando a reação dos conservadores católicos de raça hispânica na dramática guerra civil que estraçalhou o país. A invasão norte-americana lhe deu a glória de ser o vencedor da Batalha de Los Álamos, preservando o extenso território do atual estado do Texas, mas não lhe deu munição, armas e soldados em número suficiente para vencer a guerra declarada por Washington e a consequente anexação de grande parte do território mexicano. Derrotado, abdicou e se retirou para sua fazenda em Vera Cruz, onde faleceu.
Na luta política interna os liberais, liderados pelo mestiço Benito Juárez, ganharam a Guerra da Reforma contra a elite ultraconservadora dos ricos “hacendados” espanhóis e criollos brancos.
Os Estados Unidos da América entram em guerra civil que se arrasta de 1861 a 1865. Napoleão terceiro, sobrinho de Bonaparte e auto nomeado imperador de uma França em processo expansionista colonial, aproveita a fragilidade circunstancial da república de Abraham Lincoln e invade o México, sob pretexto do adiamento por dois anos do pagamento da dívida, decretada por Juárez.
Envia seis mil soldados e alguns milhares de cavalos que desembarcam em Veracruz. São derrotados pelas forças republicanas em batalha memorável na cidade de Puebla. Napoleão terceiro dobra a aposta e envia poderosa frota com mais de 26 mil soldados e oficiais, mantimentos, vinho, munição e armas. Juárez é obrigado a fugir da Cidade do México e inicia uma presidência itinerante em direção ao norte do país, organizando intensa guerrilha de resistência.
França, Áustria, Bélgica, com apoio da Inglaterra, armam uma saída política e, a pedido dos ultraconservadores mexicanos, convencem o jovem irmão do imperador da Áustria, Maximiliano de Habsburgo, casado com a princesa Carlota da Bélgica, a aceitar o posto de Imperador do México.
Maximiliano, apoiado pelos conservadores mexicanos, cria uma aristocracia local, reproduz nos mínimos detalhes o fausto de uma corte europeia na América do Norte e governa por três anos o México. Derrotado ao final desse período pelas forças republicanas de Benito Juárez, lideradas pelo destemido e notável general e futuro ditador Porfírio Díaz. Maximiliano é fuzilado no paredão. Encerra-se o Segundo Império do México. Vence a República.