Em nome de Deus
Miguel Gustavo de Paiva Torres
Uma águia pousada em um cacto nopal, com seu doce fruto vermelho, na ilha de Texcoco, no vale do México, foi o sinal identificado pelos povos indígenas de língua comum nahuatle de que suas antigas profecias da terra prometida por seus deuses haviam sido cumpridas.
Naquela ilha seria fundada a cidade de Tenochtitlán, sede do “esplendoroso Império Asteca”, nas palavras escritas por militares e religiosos que acompanharam os espanhóis na sangrenta e cruel saga de sua destruição e conquista.
Com seus aquedutos, canais, ruas e avenidas em linha reta organizando hierarquicamente a cidade sede do império entre nobres de sangue e plebeus, Tenochtitlán, saqueada e arrasada resiste ainda, até os dias de hoje, nos milhões de indígenas sobreviventes: mexicas, olmecas, toltecas e todas as etnias que usaram a língua comum nahuatle como argamassa para a construção do império da América do Norte.
Hoje, o centro do poder Asteca é o centro histórico da Cidade do México, patrimônio cultural da humanidade. Desapareceram lagos e canais. O fabuloso Templo Mayor dos astecas foi substituído pela imponente Catedral Metropolitana com suas pedras sólidas, antigas e sólidas como a morte.
Lado a lado com a Coroa, a igreja católica foi o principal instrumento de consolidação da conquista e transformação do império indígena em colônia do Reino da Espanha. Dominicanos e jesuítas moldaram a Nova Espanha.
As ordens religiosas, historicamente rivais, trabalharam incessantemente para evangelizar e “cristianizar” aqueles que os europeus consideravam “selvagens”.
Dominicanos usaram, em nome de Deus, correntes e chibatas para escravizar os vencidos e construir igrejas e conventos com as pedras de Tenochtitlán, recriando com os seus restos a paisagem urbana do reino católico de Isabel e Fernando.
Jesuítas pregaram, evangelizaram e protegeram os indígenas da escravidão; à luz dos ensinamentos e da ideologia cristã original. Iniciaram o trabalho que deixaria marcas profundas em suas Missões comunitárias sul-americanas: sob o manto católico, apostólico, romano, em nome de Deus.