Porto Escondido
Miguel Gustavo de Paiva Torres
Durante uma semana fui, todos os dias, contemplar o mar e o céu, ausente do mundo, na rocha onde, em algum tempo que já não existe, construíram o farol do vilarejo de Porto Escondido.
Contemplava a alegria dos peixinhos voadores que se confundiam com o alarido das crianças. As mães, índias vestidas em roupas floridas, coloridas, que se banhavam vestidas, me lembravam as caboclas da minha infância, nas serras de Água Branca.
Há memórias que ficam e há memórias que se perdem no longo caminho rumo à eternidade.
A rocha, poderosa, sinuosa, morada de um simples farol pintado em preto e branco, entrou em minha alma como os raios de sol que iluminavam a espuma branca das ondas do pacífico, batendo na pedra.
Não sei se era a lembrança inconsciente dos currais no encontro das praias da Ponta Verde e da Jatiúca, com seu farol, vermelho e branco; altar que elegi para o derramamento das minhas cinzas, em direção ao alto mar do atlântico; morada da minha origem e da minha partida.
Um vilarejo simples, que começou com uma única choça de palha, escondido na imensidão do oceano pacífico.
Meca da juventude dourada do surfe, artistas, escritores, loucos, músicos, velhos hippies de um passado distante; todos escondidos, perdidos, nas terras dos índios zapotecas, em Oaxaca.
Eu, na pedra, petrificado por tanta beleza e vastidão do mar azul e branco, sentado na rocha, cabeça no farol. Cheguei lá — como cheguei na maioria dos lugares misteriosos do México —, pelas mãos do meu amigo, colega de turma e da embaixada, Paulo Fontoura, casado com a meiga e alegre Tereza.
Paulo viveu no México ainda jovem, filho de diplomata. Voltou à sua segunda terra, para servir como diplomata na embaixada, na mesma época em que lá estive.
Generosos, amantes da vida e das suas amizades, o casal introduziu, a mim e a todos os colegas, nos melhores segredos do México profundo. Escondido dos olhares profanos dos estereótipos e preconceitos.