Volta ao presente

Miguel Gustavo de Paiva Torres
Dias de México

A derrota do PRI na última eleição presidencial do século XX no México foi um choque para as forças que controlavam com mão de ferro a política nacional. O candidato derrotado, Antônio Labastida, vivia a cerca de 200 metros da minha casa e da nossa embaixada, em residência discreta e sem segurança aparente, apesar de ter exercido, antes da campanha, o cargo de Secretário Nacional do Interior.

Eu o conheci em Lisboa, nas recepções diplomáticas em sua bela residência na Lapa, quando, apontado politicamente na era de Salinas de Gortari, foi embaixador do México em Portugal.

A vitória de Vicente Fox, do conservador Partido de Ação Nacional, foi sinal claro de que os Estados Unidos haviam escolhido e apostado em mudanças no país vizinho. O PAN conseguiu dois mandatos consecutivos, 12 anos no poder, mas foi derrotado, novamente pelo PRI, na eleição de Peña Nieto em 2012.

Todos foram corroídos e derrotados pelo poderoso sistema do narcotráfico, infiltrado estrategicamente no estado e nos governos nacional, estaduais e municipais.

O narcotráfico não tem bandeira política. Não é da direita, da esquerda ou do centro. É soberano e popular.

Cuahtemóc Cárdenas, filho do idolatrado general Lázaro Cárdenas, herói do México moderno, tentou, por décadas, alinhavar uma frente ampla das esquerdas e derrotar o PRI.

Nunca foi provado, mas afirma-se que ganhou as eleições em 1990, fraudada por Salinas de Gortari e sua máquina partidária. Era o líder do Partido da Revolução Democrática, o PRD, também infiltrado pelo narcotráfico ao longo do tempo.

Cuahtemóc Cárdenas e o PRD ficaram no passado. Surgiu o MORENA, partido que sucede ao PRD e que atualmente está no poder com José López Obrador, um equilibrista na corda bamba.

Movimento de Renovação Nacional, MORENA, como a maioria das mulheres mexicanas. A cor do povo, e do voto.

Os cartéis também se renovaram e se empoderaram ainda mais nos últimos 20 anos. Chegaram à capital, transformando o antigo mercado dos ladrões de Tepito em sede do narcotráfico na Cidade do México.

O poderoso cartel de Guadalajara, nos dias atuais, é o Jalisco Nova Geração. Guadalajara é a capital do estado de Jalisco, terra do agave azul, da tequila e da extrema direita conservadora mexicana, os Tecos.

Michoacán, terra de flores e beleza ímpar, está dominada por um esquema místico que combina religião cristã, santos e narcotraficantes sanguinários.

O negócio envolve cerca de 50 bilhões de dólares anuais e sustenta chefões, famílias e comunidades inteiras, na capital e no interior. É o século XXI avançando.

Edberto Ticianeli

Jornalista e Produtor Cultural. Ex-secretário Estadual de Cultura. Editor dos sites História de Alagoas e Contexto Alagoas.

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