Despedida
Miguel Gustavo de Paiva Torres
Memórias do México. Último texto.
Foi assim que me apaixonei pelo México, sua história e sua alma. No encontro entre vivos e mortos pressenti a eternidade, como possibilidade, celebração e festa.
Minha despedida foi um ato de amizade dos amigos e funcionários da embaixada. Paulo Fontoura, que tão bem conhecia os segredos do México e da sua capital, reservou uma tarde na tradicional Cantina Montejo, na área central da cidade.
As antigas cantinas mexicanas, como todo o país naquele momento, estavam em transição para o século XXI. Já aceitavam, de bom grado, a presença das mulheres.
A tradição secular era a de local reservado aos homens para jogos e bebidas. Clube do Bolinha. Meninas não entram. Bebidas pagas, comida grátis. Pratos mexicanos, caseiros, de primeira, grátis. Os gordinhos adoravam.
Ambiente renovado nos anos 90 pela mágica presença feminina, bebendo tequila como poucos homens bebem. Resistência e conquista das mulheres do México no final do século XX. A maioria das cantinas não resistiu ao novo século metamorfosearam-se em bares, restaurantes, franquias.
Naquela cantina, antiga como os filmes de amor em preto e branco, vivi o encontro e a festa que você deseja que não acabe. Não acaba. Perdura enquanto houver vida e, quem sabe, ao regressar, para festejar o Dia dos Mortos.