Resistência
Miguel Gustavo de Paiva Torres
MEMÓRIAS DE PRAGA
Na antiga capital do Reino da Boêmia e do Sacro Império Romano-Germânico, a população de Praga assistiu, perplexa, em 1938, o desfile dos tanques e das tropas de Hitler esmagando a democracia parlamentar e o governo da República da Tchecoslováquia, instituída apenas vinte anos antes, em 1918, com a dissolução do Império Austro-Húngaro, ao final da primeira guerra mundial.
Inglaterra e França haviam assumido um compromisso formal de defender a nova República da Tchecoslováquia de eventual intervenção alemã. Silenciaram.
A primeira providência de Hitler foi separar checos e eslovacos, concedendo independência à Eslováquia, sob a liderança do padre Josef Tiso, seu aliado no empreendimento da expansão nazista.
A suástica passou a tremular nas bandeiras içadas em todos os prédios públicos e hotéis ocupados em Praga.
O quartel-general chefiado pelo alto oficial da Gestapo, SS, e das forças especiais para a eliminação de judeus, “einsatzgruppen”, Reinhard Heyndrich, foi instalado no mais belo palácio do centro da cidade, o Rudolfinum, uma das joias raras de Praga, construído pelo Rei Rodolfo da Boêmia.
Heyndrich recebeu o título de “Protetor da Boêmia e da Morávia”. O carniceiro de Praga instituiu censura total na informação e na cultura; perseguição, casa a casa, de judeus; deportações em massa; fuzilamento e massacre sistemático de opositores checos.
Milhares de checos conseguiram fugir antes da chegada das tropas nazistas em Praga. Forças políticas nacionais criaram um governo no exílio, em Londres, estabelecendo conexão com um movimento interno clandestino de Resistência; apoiado pelos ingleses e similar ao que seria, posteriormente, conhecido durante a ocupação da França.