O bom soldado
Miguel Gustavo de Paiva Torres
MEMÓRIAS DE PRAGA
Ao final da carnificina da primeira guerra mundial, com o desmembramento do império austro-húngaro e a independência da nova República da Tchecoslováquia, em 1918, o Brasil foi um dos primeiros países a reconhecer o novo estado e governo.
Em 1920 a República da Tchecoslováquia abriu sua legação no Rio de Janeiro e o Brasil, em 1921, abriu sua legação em Praga. As relações diplomáticas entre os dois países só foram temporariamente interrompidas no período da ocupação nazista.
A alma, a história e a cultura do povo checo renasciam independentes e autônomas. No mesmo ano de 1921, o escritor checo Jaroslav Hasek começou a escrever uma novela surrealista de humor negro, em forma de seriado de aventuras, publicada em jornal de larga circulação nacional: O Bom Soldado Svejk. Pronuncia-se Sveik.
A novela ficou inacabada com a morte prematura de Hasek, mas o bom soldado ainda vive e viverá eternamente na alma dos povos checo e eslovaco.
Um predecessor de Kafka com a sua crítica ácida, brilhante e cômica do destino trágico do povo simples e comum, representado por seu personagem: o bom soldado Svejk.
O bom soldado está sempre debaixo das leis e regulamentos que regem sua vida militar e privada. Obediente e cumpridor, mas sempre a seu modo.
Para superar obstáculos e continuar vivo e livre, o bom soldado interpreta ordens e regulamentos sempre a seu favor. É a figura do malandro brasileiro em sua expressão máxima nas terras da Boêmia.
Leva os seus superiores e iguais ao desespero com suas argumentações sem nexo, surreais, absurdas: quando o tenente Lukas, de quem era o ordenança, diz que daria tudo para saber em que ele estava pensando, Svejk pensa e responde: — Eu não penso, senhor.
Império austríaco, austro-húngaro, comunismo, nazismo, nada abalaria o soldado Svejk, sempre disposto a sobreviver e seguir em frente, impassível e feliz em seu próprio mundo.
O Bom Soldado Svejk tornou-se uma espécie de guia de sobrevivência para o povo checo.
Um roteiro macunaímico, no estilo de Cantinflas, no México, e de Pedro Malasartes, em Portugal e no Brasil. Obra prima. O Bom Soldado Svejk é leitura imperdível.