Show room Praga
Miguel Gustavo de Paiva Torres
MEMÓRIAS DE PRAGA
Estados Unidos e União Europeia investiram maciçamente para fazer da República Checa um exemplo de sucesso, na transição de um regime comunista, com economia estatal e planificada, para um sistema liberal democrático com economia de mercado.
A transição foi relativamente rápida e estável, porque foram adotados pesos e contrapesos nas áreas trabalhista e social.
Havia interesse político no sucesso da empreitada. A abertura da República Checa foi um “show room”.
Modelo para os demais países fechados da Europa Oriental, na antiga cortina de ferro soviética. A “Radio Free Europe” passou a transmitir sua programação a partir de Praga, em língua inglesa.
Mal-estar crescente em Moscou, antiga capital regional do império soviético. A chanceler norte-americana, Madeleine Albright, e a embaixada dos Estados Unidos em Praga jogaram com todas as peças disponíveis no tabuleiro.
Enquanto o governo Clinton autorizava bombardeios em Sarajevo, no desmonte traumático da antiga Iugoslávia, em Praga reinava a paz e o avanço acelerado da modernização do comércio e dos serviços na cidade.
Os preços também subiam, mas divididos em dois índices diferenciados: um para os checos e o consumo básico; outro para expatriados e turistas, nos setores considerados de luxo.
O turismo explodiu no cenário mágico da antiga cidade de conto de fadas. Era quase impossível caminhar nas vielas da cidade velha sem tropeçar em grupos enormes de turistas do mundo inteiro, guiados por uma profusão de bandeirinhas de identificação.
Praga entrava na moda. Novo destino europeu do turismo de massa. Nós, que a conhecíamos simples, barata e pacata, sentimos o mesmo choque dos habitantes locais.
Parte da máfia russa logo se instalou para explorar sexo, drogas e jogo na vida noturna agitada de Praga e Karlovy Vary, antiga e famosa cidade balneário de águas termais.
Marienbad, linda e pequena cidade balneário, com belíssimas termas, onde viveram Chopin e Goethe — frequentada assiduamente por Roberto Marinho e outros milionários do mundo inteiro —, conseguiu ficar fora desse circuito mafioso daquela época.
A imigração de romenos, sérvios, bósnios, húngaros, poloneses, eslovacos, latinos, africanos, asiáticos crescia a olhos vistos. Prosperava o comércio informal nas calçadas das cidades. O dinheiro girava, Praga mudava.