Metrônomo   

Miguel Gustavo de Paiva Torres
MEMÓRIAS DE PRAGA

Caminhando sobre as pedras milenares da cidade velha, em Praga, lia inscrições que lembravam lápides de cemitérios. Eram pedras retiradas do antigo cemitério dos judeus, para calçar a cidade.

O bairro dos judeus, com suas sinagogas e cemitério ancestral — funcionou entre os séculos XV e XVIII.

Atrai peregrinações do mundo inteiro para conhecer a história daquele que é o mais antigo cemitério dos fiéis do judaísmo na Europa.

Estimam-se cerca de 100 mil lápides sobre e sob o solo do jardim dos mortos, como foi conhecido em tempos remotos.

Judeus e ciganos comeram o pão que o diabo amassou e cremou nos campos de concentração.

Com tradições e culturas próprias, esses dois grupos humanos foram importantes na construção da identidade da Europa Oriental.

Na República Checa, assim como na Áustria e na Hungria, judeus estiveram no centro do poder político, econômico e social.

Praga enriqueceu com o comércio, serviços e finanças dos checos de origem judia.

Na ocupação nazista a maioria partiu para o exílio. Os que ficaram juntaram-se aos nacionalistas e comunistas na luta de guerrilhas da resistência.

Com o fim do nazismo e a ocupação soviética, aliaram-se, boa parte, aos companheiros comunistas e ficaram no poder até o fim do regime, em 1991. Ciganos, por sua vez, também entraram na política e assumiram protagonismo relativo.

Quando visitei a encantadora cidade de Cesky Krumlov, perto da fronteira com a Áustria, almoçamos, pela primeira vez, em restaurante cigano, com excelente comida, vinho e música cigana ao vivo.

A cidade tinha ciganos como prefeito e população majoritária. Donos, também de comércios, hotéis e serviços.

Em Praga, passeando na encantadora rua Paris — Pariska —, enquanto a neve caía, ainda suave, parava sempre para olhar o pêndulo do Metrônomo.

Obra de arte que marcava a passagem do tempo, construída sobre a base em que foi erigido, em 1952, monumento comunista com gigantesca estátua de Stálin, que observava permanentemente, até sua destruição, em 1962, o centro de Praga.

Na base do Metrônomo, onde hoje circula a garotada do skate, em suas evoluções e piruetas, está escrito: “o tempo passa, nada fica”.

Edberto Ticianeli

Jornalista e Produtor Cultural. Ex-secretário Estadual de Cultura. Editor dos sites História de Alagoas e Contexto Alagoas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *