Herval
Miguel Gustavo de Paiva Torres
MEMÓRIAS DE PRAGA – TEXTO FINAL
Convidei Herval para fazermos um passeio, na noite de Praga, depois da festa do meu aniversário, em 2003. Completava 50 anos redondos.
Ele tinha sido o meu companheiro de muitas caminhadas e descobertas em Praga. Descobertas urbanas e humanas.
Era a minha despedida pessoal e íntima daquela cidade, agora parte da minha alma.
Sentamos nas escadarias da Igreja do Menino Jesus de Praga, templo frequentado pelos latinos da cidade, com suas missas também rezadas em língua espanhola.
Linda igreja, com sua estátua de Santa Terezinha em tamanho natural, igual àquela que habitou o quarto dos meus pais no casarão da rua Ângelo Neto, em Maceió.
Pessoa amiga e generosa, Herval estava há décadas na República Checa, trabalhando como funcionário da embaixada. A língua checa também era sua língua mãe, tanto quanto a brasileira.
Conhecia tudo e todos. Muito querido. Quebrava o pau com os funcionários checos da chancelaria quando estes começavam a falar em checo entre eles, falando mal de qualquer coisa que atingisse o Brasil e brasileiros. Uma fera, o Herval.
Pacato e inteligente, circulou muito nos meios artísticos e da contracultura checa na época comunista. Foi quem me levou ao Submarino Amarelo para ver melhor a cidade e o povo, através do seu periscópio.
Somos amigos ainda hoje. Aposentado, regressou recentemente ao Brasil e vive em Itamaraty de Minas, linda cidade no interior de Minas Gerais, enfrentando este tempo sombrio de pandemia e bolsonarismo no Brasil.
Em Praga ficou sua linda e inteligente filha, nascida e criada na República Checa, Alexandra, que leva os sobrenomes Carrilho Pereira do pai para futuras gerações checas.