Patins e Patinetes

Miguel Gustavo de Paiva Torres
MEMÓRIAS DE PRAGA

Estava como encarregado de negócios da Embaixada quando recebi a comunicação de que o ex-governador de Brasília e Senador, Cristovam Buarque, estaria chegando a Praga, alguns dias depois, para uma agenda com o presidente da República Checa, Václav Hável.

Entrei em contato com a assessoria do senador em Brasília e fui informado de que se tratava de um périplo europeu para angariar apoio de organismos internacionais na internacionalização do programa Bolsa-Escola, em países pobres, a exemplo do que havia sido feito no Brasil.

Solicitaram que eu confirmasse a agenda na presidência da república e acompanhasse a comitiva do senador ao encontro no Castelo de Praga. Confirmei e avisei que iria buscar a comitiva no hotel informado, o Intercontinental, quarenta minutos antes do encontro, uma vez que o hotel estava a menos de 5 minutos do local do encontro.

O Hotel Intercontinental era o mais moderno e conhecido de Praga na época. Situado na bela Rua Paris, a mais chique do centro da cidade. Lá, eu frequentava a academia de ginástica e piscina e já era figura carimbada para os recepcionistas.

Dito e feito. No dia marcado, quarenta minutos antes da entrevista com o presidente Hável, entrei na recepção do Intercontinental e pedi para avisar ao senador Buarque que o encarregado de negócios estava a sua espera. Não havia nenhum senador Buarque ou brasileiros hospedados, naquele dia, no hotel.

Foi um choque. Liguei imediatamente para a embaixada e falei com Jana, a secretária. Atônita, ao telefone, ela me disse que havia um pequeno duplo do Intercontinental, ao lado do aeroporto de Praga. Iria verificar e resolver. Resolveu.

Telefonou para o Intercontinental do aeroporto, informou sobre o ocorrido aos assessores do senador e enviou correndo o carro de serviço para lá. Ligou para a presidência, informou sobre atraso e a minha chegada ao Palácio antes da comitiva.

Cheguei e fui direto para a antessala do presidente Hável. Na verdade, um imenso e longo espaço adaptado no belíssimo Castelo de Praga.

Os assessores de Hável circulavam em patins. Depois, todos já tranquilos na sala de reuniões, recebemos, de surpresa, o presidente escritor, em roupa esportiva, dirigindo sua patinete. Gostou muito do senador Cristovam Buarque e do seu programa do Bolsa-Escola. Prometeu apoiar.

Assim era Václav Hável, o mais amado presidente dos checos, ao lado de Tomás Masaryk, fundador da República, em 1918.

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