A noite é uma criança

Miguel Gustavo de Paiva Torres
MEMÓRIAS DE PRAGA

No inconsciente do imaginário coletivo da milenar tribo dos checos, a primazia sempre foi o mitológico, o fantástico, o mágico e o sobrenatural; sempre liderados pela mítica Princesa Libuse, em seu Castelo de Visehrad, nos arredores de Praga, onde teve a visão de um futuro reino pleno de glória.

Libuse, a filha mais jovem e sábia do Rei Krok, com seus longos cabelos loiros, linda e poderosa amazona montada em seu cavalo, espada e cabeças nas mãos, em defesa do seu povo.

Povo que parecia não querer dormir. Perder o tempo, as cervejas e as festas.

A noite de Praga fervia. “Caliente como el sol”, diziam os milhares de cubanos e latinos imigrados, temporários ou de passagem, em seus bares e espaços superlotados de checas, austríacas, húngaras, americanos, africanos, ciganos e muito mais.

La Comedia, era o menor e mais animado dos espaços, no centro, frente a uma imponente igreja barroca. Salsa, mambo, cha cha cha, rumba, “brazilians sounds”, tudo junto e misturado por jovens Djs brasileiros, peruanos, cubanos, romenos, americanos. Todos circulando e matando a noite de Praga com música, festas, beijos e alegria.

Talvez tivessem medo de dormir. As fantásticas histórias dos espíritos ancestrais do povo checo, “vodniks”, “kaboureks”, fantasmas que reencarnavam nos rios, lagos e florestas; orixás da mitologia eslava tão queridos pelas crianças, adultos e velhos, ressoavam na alma mágica da cidade.

Cidade de artistas, como Paris, encantava com os seus teatros de marionetes, quase humanos; palcos iluminados pelos jogos de luzes do teatro de sombras, criando emoções iluminadas por lanternas nas salas escuras.

Impossível dominar, aniquilar, aprisionar — para sempre — a alma da tribo da Princesa Libuse, sempre viva nas luzes que se acendem nas florestas, rios e lagos da Tchéquia.

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