Com alma

Miguel Gustavo de Paiva Torres

Escutando, “con alma”, a leve percussão no jazz de Coltrane trazendo memórias de raízes antigas, florestas da África, nos quintais das Alagoas, atabaques, surdos, pratos metálicos em um apartamento de Nova Iorque, som negro no asfalto, vidros, edifícios, néon, noite e madrugada, o jazz escorrendo nas veias da cidade calada, invisível, o homem negro, suor pingando nas notas do sax, alto e baixo, crime cromático, o negro e o branco, nas teclas do piano, como Keith Jarret, na Catedral de Colônia, o silêncio, a alma da música atravessando vitrais, rasgando a pele, derrubando estrelas, na noite negra, o jazz, no calor da noite, Mississipi, Sergipe, Bahia, guitarras, pratos, percussão, quebrando a madrugada, beira-mar, vermelho, sangue derramado, hóstias consagradas, piano na areia, caudas e teclas, suave melodia, luz do luar, madrigais em fuga, chamas do sol, batendo suave nas almas dos negros, solidão branca, no apartamento em Nova Iorque, cai a neve, alma eterna de todos os acordes, sonhos e sono, espumas, veias azuis transportando a cor do sangue, transbordando corações, inundando o mar, no silêncio.

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