O que resta dos nossos amores?
Miguel Gustavo de Paiva Torres
Sair na rua, alta madrugada, frio cortando os lábios e a face, mãos enluvadas buscando um cigarro Gauloise no bolso do casacão. Esquentar os pulmões e arrefecer o fogo no coração.
O que resta de nossos amores? O que resta desses belos dias? Paixão. As “caves” de Paris. Os subterrâneos da eterna França.
La belle France na madrugada dos seus dois olhos negros; occitana, cigana, marroquina, argelina, basca como os Pireneus, atravessando trilhas nas montanhas das minhas emoções, violões.
Boris Vian, Montand, Trenet, Ferré, Piaf, Nougaro, Becaud, Juliette, Greco, La Mer, vinhedos do mar Azur da costa da Provença.
Ventos do Esterel balançando as rochas e o avião no aeroporto de Marselha, antecipando o cheiro de lavanda e o verão incendiando nossos corpos, juvenis, fortes como os queijos da Córsega. Vivos e coloridos como os peixinhos brincando, crianças, nas águas mediterrâneas.
Em algum lugar, por trás do arco-íris, voam os pequenos pássaros azuis.
O que resta de nossos amores? O que resta de nossos belos dias? Um baile cigano, Manitas de Plata. Fumaça e vinho nas “caves” da minha memória azul, vermelha e branca. “Eu choro em Yourubá”, na Ilha de Saint Louis.