Batuque

Miguel Gustavo de Paiva Torres

O resto é mar. O azul está apenas no seu olhar. Negra Iemanjá das areias acesas nos fogos. No mar Iorubá — no mesmo altar do salvador, em Salvador —, barco no Rio Vermelho. Tanta chuva no luar.

Dourada deusa, mãe querida da doçura, das flores e das frutas do quintal das bananeiras, caribenhas e nordestinas, como a sina de atravessar oceanos; fruta pão, mamão. A sombra da jaqueira e o luar, escondido.

Atravessando manto de estrelas, cabelos ao vento; cavalos marinhos cavalgando sonhos de verão, seios soltos no mar do Tahiti, Bora Bora, no Havaí, Maragogi, “dans mon île”, sou Rei.

Batuqueiro, rodando na roda do batuque da Ponta Grossa, na Barra de São Miguel, meia-noite do ano novo da lua e do olhar; criança montando na velhinha, encurvada, desdentada, dando pulos e saltos no ar, acrobata da festa dos espíritos, tambores na noite, mortos e vivos, aulindo e rolando, nas areias; espuma do mar.

Sempre o mar, azul e verde, rainha e mãe, preta e branca, Iemanjá, subindo nas ondas, descendo correntes, encarnando na água, doce e salgada, branca na pele preta no coração. Bateu sede e saudade, nos tambores da noite, madrugada que não se foi, nas águas do mar.

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