O incêndio de Roma
Artur Gondim
* Publicado originalmente no semanário Opinião em 1982.
Certamente orgulhosa pelo excelente aprendizado e talvez querendo levar aos escalões superiores a certeza de sua eficiência, uma professora da cidade de Pão de Açúcar foi a Maceió e pediu a presença de uma inspetora, para, em sua escola, promover um debate sobre História Geral.
Sua intenção era obter uma avaliação que, quem sabe, poderia conduzi-la a uma compensadora promoção nos quadros do magistério.
Isto posto, chegou um belo dia a inspetora à Pão de Açúcar para iniciar o debate.
Apresentada à turma, a inspetora convocou João da Silva, apontado pela professora e confirmado pelos colegas, como o mais aplicado da classe.
A gentil inspetora começou pelo trivial:
— Quem descobriu a América?
— Cristóvão Colombo, respondeu João da Silva, o inteligente.
— Hum, muito bem! Exclamou a inspetora.
— Quem descobriu o caminho para as Índias?
— Vasco da Gama.
E assim por diante. Até que a inspetora sacou a pergunta que deixaria embaraçado o aplicado aluno.
— Quem incendiou Roma?
João da Silva tremeu, olhou seus colegas um a um, mordeu os lábios reprimindo o choro iminente.
Diante daquele quadro, a professora veio em seu socorro, intervindo na questão.
— Inspetora, posso lhe assegurar que não foi o João da Silva. Joãozinho é um menino muito bom. Acredito que tenha sido qualquer um dos 40 alunos. Mas pelo João boto a mão no fogo.
O debate estava terminado, para a decepcionada inspetora.
Na saída, porém, ela encontraria o deputado Antônio Ferreira, a quem fez queixa, criticando o péssimo nível da escola e da professora.
Informado de tudo, o parlamentar concordou com a inspetora em que a escola fosse melhorada, mas corroborando a afirmação da professora, afirmou:
— Também não acredito que tenha sido o Joãozinho que tenha incendiado Roma.
Não estaria terminada aí a estória.
Indignado com o que ele entendeu ser uma acusação ao aluno, o deputado dirigiu-se a casa do ex-deputado Elísio Maia para uma consulta.
— Elísio, acho melhor mandar apurar direitinho esse negócio…
— Que nada, Antônio. Panela que muito mexe ou sai ensossa ou salgada. Manda ver o estrago do incêndio que a Prefeitura paga.