Diplomacia
Miguel Gustavo de Paiva Torres
O mundo da diplomacia parece para muitos um planeta exógeno ao sistema das profissões mais comuns no universo da vida diária de todos nós. Muita conversa, glamour, luxo e pouco trabalho concreto.
Não é assim. Diplomacia é uma profissão técnica e também uma arte, mas os seus pressupostos essenciais estão em pilares bem simples da convivência milenar entre os seres humanos, em todos os tempos e lugares
Educação, empatia, respeito e negociação são mais importantes do que a soma de todos os compêndios de relações internacionais e teorias de mundos convexos, planos ou circulares — bullshit como dizem os americanos.
Pragmaticamente, o diplomata é um caixeiro viajante. Um vendedor de um único produto: o seu país.
Assim, quando você leva na sua pasta de couro da Gucci 60 milhões de miseráveis mais 20 milhões de desempregados, crime organizado, insegurança pública e jurídica somados a uma moeda que não vale nada, emitida em uma inflação que bota fogo pelas ventas, você tem que ter uma lábia, um sorriso e uma simpatia de derrubar avião.
Ademais, se você só tem dois ou três produtos no seu portfólio de vendas — soja, minério de ferro e carne —, você está mais parecido com um mendigo de porta de igreja do que com um profissional da diplomacia.
Fica mais difícil ainda se o teu chefe máximo, o Presidente da República, esculhamba publicamente com os principais clientes dos teus três produtos principais e, para coroar, faz gracinhas dizendo que a mulher de um colega presidente de uma potência mundial é feia — injúria ao ego de qualquer mulher.
Não tem pílula azul ou pílula vermelha que funcione nesse quadro de farsa burlesca no mundo real da convivência internacional e do instrumental diplomático.
É melhor você pedir demissão e partir para ser literato, compor músicas e versejar. Se possível em uma ilha remota onde nunca se ouviu falar do seu país e muito menos do teu chefe máximo.