Lunação dos homens pretos – Dia da Consciência Negra
Miguel Gustavo de Paiva Torres*
Foto Mulheres no mercado, de Marc Ferrez em 1875.
O sol bate na noite escura rodopiando a música suave dos teus pensamentos mais sombrios, na Igreja dos Homens Pretos.
Quanta dor. A lua na sarjeta doura águas de chuva. Passageiras, refletindo folhas mortas, castanhas, das verdes castanheiras da beira do mar, em Maceió.
Foi em Salvador, talvez, o primeiro desembarque de tua alma negra, em uma noite escura de lua nova, recolhida em oração.
Onça preta, na espreita. Árvores estranhas, chicotes e ferro, faca na mão, sangrando o olhar branco do felino, arrancando corações na suave melodia que sai nas harmonias do violão.
Noturno, na noite sem luar. Só o vento e o mar entre a Costa de lá e a Costa daqui; costas lanhadas, ondas batendo nas pedras, pelourinho do Cristo Negro no mar da Eritréia, Panamá e Galileia.
Virgem Preta milagrosa chorando no altar. Mortos jogados ao mar, regressando em raios, trovões e chuva, escorrendo na sarjeta enluarada, novamente em direção ao mar.
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*O autor é pioneiro na política externa africana do Brasil e na valorização da importância negra na formação cultural e raízes do Brasil.
Se cada branco (a) tivesse a consciência de que, também, poderia ter nascido (a) negro (a), e que cada negro (a) poderia ter nascido (a) branco (a), não existiria preconceito racial em nenhum lugar do mundo.
Muito lindo e emocionante! Um alento para quem, como nós, temos compromisso com o combate ao preconceito, ao racismo, à homofobia ,à misoginia… Parabéns, Miguel Paiva👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽✊🏽✊🏽💯💯