O cachaceiro marginal!

Sérgio Braga Vilas Boas
Foto de Ricardo Stuckert

Lula, o marginal cachaceiro, rodou pela Europa a dizer o óbvio: o mundo estacionou no anacronismo, recheado de ódio, idiotia e indiferença. Disse o já havia dito o imortal Saramago em Ensaio sobre a Cegueira. Há que se construir outro mundo: sem ódio, solidário e que garanta o mínimo de respeito pelo ser humano, sujeito principal do mundo. Uma obviedade ululante. Só não o é para os indiferentes descritos por António Gramsci, ou para os que preferem o mundo assim mesmo: depressivo, faminto e odioso. Difícil acreditar na persistência desses últimos. Mas eles estão por aí. E são muitos. Mais do que possamos imaginar.

Difícil também é acreditar, que nenhum chefe de estado ou governo de relevância no mundo tenha a coragem de dizer o óbvio. Simples assim: não dá mais! Aí vem o cachaceiro marginal e diz. É aplaudido de pé; recebido com honras de chefe de estado; e recebe juras de amor.

O mais importante periódico espanhol, um dos mais importantes da Europa e do mundo, El País, sugere em seu editorial uma espécie de aliança, não com o Brasil e nem com o PT, mas com Lula, para combater a extrema direita. Parece que El País também não entendeu a despeito de suas boas intenções. Lula sugere a união de todos pela paz social, contra o ódio e a ganância. O mínimo que se pode fazer, o que tem sido quase impossível.

Sua fala na Europa acendeu por aqui a pira dos instintos mais primitivos, depois de ser acusado de ser o chefe do maior escândalo de corrupção da história não só da humanidade, mas da galáxia, antecipando-se à possibilidade de existência de vida em outros planetas e de ter passado dois anos preso.

Provocou choro e ranger de dentes. Bocas a espumar ódio. Caras de: “não estou nem aí”, tomando litros de antiácido para aquietar o estômago regurgitante. Disparos de canalhices aos borbotões via redes sociais.

Não adiantou nada. Sem querer fazer comparativos — não sou adepto de comparar biografias. Assim como não adiantou prender Mandela, Ho Chi Minh ou matar Gandhi.

Lula, pouco ou quase nada letrado se comparado aos ícones citados, não passou décadas na cadeia, mas seu périplo começou ao nascer. Lula não precisa se eleger presidente, e me parece que entende isso. Compreende muito bem seu lugar na história. Por isso não destila ódio, rancor e sua fala é simples e inteligível por qualquer um. E por isso representa esperança. E por isso tão perigoso: não podem matá-lo.

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