Nazismo tropical
Miguel Gustavo de Paiva Torres
Ilustração de Pedro Franz
Os mitos fundadores da pátria amada não desceram e nem subiram o Reno; não chegaram ao “Walhala”, paraíso mítico com quinhentos e quarenta portas no salão dos deuses nórdicos comandado por Odin; e tampouco se fantasiaram de Nibelungos para brincar o carnaval carioca no Cordão do Bola Preta.
Os mitos fundadores da nossa amada pátria tropical sempre foram o Bicho Preguiça — os restos de esqueletos dos maiores exemplares de bichos preguiça do mundo foram encontrados no Brasil —; o Saci Pererê, o Bicho Papão, a Mula sem Cabeça, o Preto Velho, a Pomba Gira, Zé Pelintra — fundador do primeiro partido político nacionalista do Brasil —, e o inefável papagaio Zé Carioca. Ao lado de Pedro Malasartes (ideólogo do regime nacional-tropicalista) e do malparido Macunaíma são os verdadeiros e únicos mitos fundadores da República do Brazil.
A arte heroica brasileira foi cozinhada na mágica panela de barro que transformou a sopa de pedras de Portugal em uma feijoada com rabo e pé de porco. Feijoada vinculante e imperativa para a diarreia monumental de dinheiro e riquezas evacuadas pelo ralo das caatingas, cerrados e praias do gigante de lama.
A cultura do Mangue produziu uma República de Caranguejos gordos e felizes, devoradores de criancinhas e resistentes a vírus e micróbios tropicais e temperados.
Todos os canalhas que usaram o nome de Deus e o apelo à Pátria amada conseguiram o apoio das forças obscuras que escavam ouro, queimam florestas, aterram mangues, armam milícias e produzem mentiras.
Todos preferem o caminho fácil da criação de narrativas infantis da luta entre o bem e o mal; o faroeste da cavalaria que chega em socorro dos brancos cristãos em sua luta contra os índios selvagens. O herói será sempre um mito de papel, eleito para dominar e matar em nome de Deus e da Pátria.
O que importa é dominar e controlar. Não deixar o gado fugir do cercado. Cercar com os arames farpados das ditaduras, violência, cadeia, pensamento único e verdade absoluta.
Afinal uma mentira repetida mil vezes se transforma em uma verdade. A verdade é tudo. Mesmo quando nasce de uma mentira termina sendo uma verdade. A única verdade verdadeira são as palavras e os símbolos: o resto é resto e dinheiro no bolso. Whisky, Vaca Preta, Paulo Guedes — off-shores, Artur Lira — orçamento secreto, mercados, Lamborghini e Caviar. Sexo e tilintar de moedas, o verdadeiro e único Walhalla brasileiro.