No futuro
Miguel Gustavo de Paiva Torres
30 anos passam voando. Parece que foi ontem e já estamos em 2050. Paraisópolis sofreu várias mutações e engoliu a Zona Sul de São Paulo. No Rio de Janeiro, o novo governo provisório está instalado na Zona Oeste, sob comando de uma federação de milícias.
Recife, Maceió, João Pessoa, Salvador, Aracaju e Natal são cidades aquáticas. Tubarões trafegam nas avenidas das antigas cidades submersas, no futuro 2050.
237 milhões de habitantes perambulam de norte a sul pelos trilhos enferrujados da sonhada ferrovia inaugurada por José Sarney nos anos 80 do século XX e projetada no século XIX pelo Imperador Dom Pedro II, o Ilustrado.
Os demais 75 milhões de habitantes, como no passado, se lambuzam em perfumes franceses, bebem champagne, e também morrem, como no passado, de morte morrida ou de morte matada.
Grande parte da população abriu mão da centenária tradição nacional de comer carne, de boi, vaca, carneiro, bode e porco, para comprar armas. Seguiram o conselho do velho chefe Touro Sentado em 2021, em sua célebre alocução aos brasileiros no cercadinho do Palácio da Alvorada.
O aeroporto Tom Jobim agora recebeu o nome de aeroporto Paulo Guedes. Conta com 200 pistas para pouso e decolagem de carros voadores desenvolvidos nas últimas décadas pela resiliente EMBRAER; uma das últimas indústrias do país, juntamente com a IMBEL, a Taurus e seu conglomerado de fábricas de armas no Oeste Paulista e no Mato Grosso do Sul.
O país ainda é o maior produtor mundial de soja, café, milho, laranjas e minério de ferro. Ouro já não há. 150 mil balsas secaram o Rio Madeira e transformaram a Amazônia no maior buraco a céu aberto do planeta.
Aliás, Estados Unidos, China e Europa ainda são as três grandes potências mundiais. A diferença é que decidiram criar um condomínio de administração global, parecido com a divisão feita pelos Aliados ao final da segunda guerra mundial no século XX.
As duas usinas nucleares, únicas que chegaram a ser construídas no Brasil das sete contratadas pelo general Ernesto Geisel, no regime militar, são sucatas enferrujadas e desativadas. O país optou na década de 20 deste século pelo óleo diesel e estocagem de vento.
Nas ruas, pouca gente. O trabalho é todo feito de forma remota, inclusive o sexual, diversificado e exclusivamente virtual nos dias atuais. Sem fluidos corporais. Aqui chegamos, brava gente brasileira.