Infinito

Miguel Gustavo de Paiva Torres

Foto: Chuva no mar de Japaratinga, de Edberto Ticianeli

São meras constelações e galáxias no telescópio do seu olhar. Invenção da mente e ilusão da ótica. Do seu ponto de vista é uma linda estrela. Do outro, um, inferno cuspindo fogo no vácuo eterno.

Assim vivemos, neste sopro de vida, fugaz. Tudo está escrito nas estrelas, dizem os árabes: maktoub. Malesh — azar —, digo eu.

No começo nunca foi o verbo, isto é certo. Foram os números. A aritmética, geometria e álgebra, que se transmutam em formas e música, no espaço e no tempo, essas necessidades da razão e da explicação.

Números infinitos. O zero e o círculo, nunca exatos, sempre aproximados à perfeição, do seu olhar.

Água, dizia Tales de Mileto. Tudo é feito de água, portanto água é o que você pode ter como ideia de Deus. Ideia, tudo é ideia, de Platão a Kant, passando por Fichte e Hegel, estamos todos de cabeça feita desde o momento em que Descartes descobriu o óbvio: penso, logo existo.

Sente o vento? Vê o arco-íris? Ruminou o ódio? Esqueceu o amor? Encontrou a botija de ouro enterrada no quintal da sua alma? Já transmigrada em pássaro…

Esqueça. Tome um banho de rio. Mergulhe no rio Letes. Vá e não volte, aprenda matemática e contemple a natureza, antes de partir para nunca mais voltar, igual.

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