Miriam Leitão e as ameaças à democracia
Edberto Ticianeli
Começa o ano da graça, e eleitoral, de 2022 com o presidente Bolsonaro se distanciando cada vez mais dos eleitores, acumulando desgaste após desgaste, prenúncio da derrota nas eleições presidenciais.
O que chama a atenção é que quanto mais ele se enfraquece e se isola politicamente, mas surgem as especulações sobre a possibilidade de ele melar o jogo para continuar no poder.
As análises que sustentam essa probabilidade constatam que essa seria a única forma da família Bolsonaro se manter desgovernando o Brasil.
Como reforço para essa avaliação brada-se que “forças ocultas” atuariam para impedir uma possível, e esperada, vitória do Lula. Cita-se até interesses norte-americanos nesse veto.
Quem recentemente externou essa análise foi a jornalista Miriam Leitão, que do alto da sua experiência em campanhas da Globo para derrubar presidentes, pontificou:
“Bolsonaro tentará, como fez Donald Trump, melar o jogo democrático. Será preciso estar, como diz a minha geração, atento e forte”.
Para demarcar campos, declaro que sou daqueles que diante de situações potencialmente conflituosas procuro avaliar as forças dos contendores para tentar saber se a briga é mesmo para valer e se o que se declara o valentão tem forças suficientes para realizar seus intentos.
Por pensar assim, me alinho com os que não viram ameaça golpista alguma no “circo” montado por Donald Trump no dia 6 de janeiro de 2021, em Washington, com a invasão do Congresso.
Num país como os EUA não se “acha” por achar que uma ação dessas seja capaz de levar os militares a apoiarem a declaração de lei marcial e anulação dos resultados eleitorais. A “inteligência” norte-americana não falharia tão grotescamente.
Trump sempre soube que o ato de agressão ao Congresso, incitado por ele, não teria êxito.
Bruno Maçães, autor de “History Has Begun: The Birth of a New America”, avaliou o que ali aconteceu como algo “excepcionalmente bizarro e incomum”.
“Não havia condição de tomar o poder enviando uma galeria de cosplay (fãs fantasiados) com personagens ecléticos para o Congresso. Mesmo como pretexto para uma ação militar do Trump, o evento dificilmente era adequado”, constata o escritor.
Algo muito semelhante aconteceu no Brasil no 7 de setembro, quando Bolsonaro tentou intimidar o STJ com a ocupação de Brasília sem o apoio dos militares. Ele, a exemplo de Trump, também sabia que os militares não participariam da sua aventura.
Bastou uma canetada do ministro Alexandre de Moraes para que o circo fosse desmontado sob lágrimas de decepções.
Mas voltemos à Miriam Leitão, que alerta para o golpe que será tentado por Bolsonaro.
“Como?”, perguntaria o histórico prefeito de Maceió, o poeta Sandoval Caju. Com que forças?
Se Bolsonaro, que antes mantinha altos índices de aprovação e não conseguiu alimentar esse projeto, como fará isso daqui há alguns meses quando deverá estar numa situação muito pior que a atual, com a rejeição ao seu mandato atingindo patamares alpinos.
Miriam Leitão sabe que essa sua retórica serve somente para tentar posicioná-la no campo dos que defendem a democracia. Para tanto reforça essa fantasia invocando dizeres de sua juventude, quando militou na esquerda.
Não adianta se pintar de guerreira da democracia. Não esqueceremos da sua campanha “democrática” para prender o Lula e derrubar a presidente Dilma. Não apagaremos dos computadores as suas imagens na Globo jogando confetes no juiz parcial e corrupto Sérgio Moro e criando pânico no tal do Mercado para atingir a Petrobras.
Estaremos atentos e fortes para impedir que a Globo derrote a democracia novamente ao interferir nas eleições de forma desonesta e parcial, com a sua participação, como sempre.
Os desentendimentos entre os Marinhos e Bolsonaro não levam a Globo para o campo democrático e muito menos faz de Miriam Leitão, com sua história de servilismo, uma lutadora por liberdades.
Ótima narrativa! Mas, apesar da Mirian Leitão e a Globo haverem ajudado a dar o Golpe de 2016, vale ressaltar que não se espera Bolsonaro entregar o cargo de forma pacífica. Haja vista a previsão de que ele e a parte de generais da “Pátria Mamata” – que envergonham o exército e denigrem a dignidade dos demais militares, dentre os quais os legalistas- mesmo sem êxito, devem montar uma estratégia de resistência à posse do novo presidente eleito.