Nuvens
Miguel Gustavo de Paiva Torres
Foto de Edberto Ticianeli – Japaratinga em 2004
Na infância e na velhice, início e final da viagem. Na luz e na sombra, quando ainda existia verão e céu, deitado em redes, absorto em brancas nuvens. Era possível sentir o cheiro das cores, pingando em arco íris. O sabor do som no radinho de pilhas japonês. Lembro bem a primeira vez em que vi cavalos galopando no céu de Maceió.
Nuvens esculpidas pela ventania viajando para o leste, dissipando cavalos formando dragões. Barcos cinza e negro navegando sobre os mares, cobrindo o sol, trovão, raios, temporal, carnaval chegando, pura emoção.
A ereção instantânea na imaginação do pássaro mergulhando no mar. Mar e Sol. Alimento e acasalamento, cavalo marinho, corais. O olho do peixe olhando em volta, deslizando no bico da gaivota, sabendo mais do que jamais saberemos sobre o movimento da lua e das marés, no vai e vem da vida e da morte.
A primeira vez e a última vez em que escutei Mar e Céu, bolero clássico de Júlio Rodriguez imortalizado pelo Trio Los Panchos, em um restaurante na Cidade do México, fiquei encantado pela música, letra e harmonia, simples e leves como brisa de verão. O mar, por mais que queira, nunca se encontrará com o céu.
Ao longe, no horizonte, parece tocar o céu. Mas nunca o tocará. Assim é o amor absoluto e a verdade universal. Assim como o mar, nunca tocaremos o céu.
Só nos resta deitar em redes e observar as nuvens viajando no som e na luz eterna; batidas do coração e movimento perpétuo nas cordas do piano, nas cordas do violão.
Uma única música repartida em milhões de possibilidades, talvez infinitas melodias na dança das esferas, cálculos e ritmos precisos como a perfeição inatingível do encontro entre o céu e o mar.