Tarado no Jardim de Infância
Miguel Gustavo de Paiva Torres
A história é real e aconteceu nos anos 20 do século XXI, na mais divertida e devastada república bananeira da América do Sul, naqueles tempos de miséria, fome e pestes crônicas.
Um pequeno grupo de espertalhões controlava aquele território e sua população indigente material e mental com um sistema de governo que chamavam de estado democrático de direito.
Uma cópia híbrida de modelos muito antigos criados pelas elites de Atenas e de Roma na antiguidade para permitir a falsa sensação de igualdade, na farsa bem urdida de um homem, um voto. Excluídas as mulheres e escravos.
Pretos, pardos e amarelos, naquele tempo, não tinham alma e já nasciam escravos, fato que sofreu enorme melhoramento social e econômico com uma bem bolada lei do ventre livre, ainda no século XIX, em nossa referida república bananeira sul-americana. A maior do mundo.
Os espertalhões se reuniam a cada quatro ou cinco anos, em um restaurante determinado, para escolher qual o cavalo que poderia ganhar a eleição democrática feita em uma engenhoca vigiada por juízes e militares para que que não houvesse a possibilidade de que um homem votasse duas ou cem vezes ao mesmo tempo, porque já era popular, na época, um jogo de “robôs” que permitia tirar coelhos de cartolas e cartas da manga.
Essa turma de espertalhões nunca conseguia acertar de modo sustentável e, sucessivamente, iam a falência, perdiam seus negócios, se endividavam, algumas vezes iam presos e, em outras se matavam. Mas não desistiam.
O desastre absoluto, no entanto, só aconteceu no início dos anos 20. O cavalo escolhido, sabiam, tinha enorme facilidade de trotar e correr em pistas íngremes, lamacentas e perigosas, boa saúde e forma física. Resistia à faca e à bala e não havia peste que o deixasse mais de dois dias na enfermaria, de onde sempre saia renovado e bem escovado.
Mas esse cavalo tinha um problema não identificado. Era um tarado. Um tarado psicopata que conseguia rir e dissimular sua necrofilia genômica.
Não conseguia viver um dia sem o gosto da morte na boca. Aos velhinhos e velhinhas, no início, receitava remédios falsos e, quando morriam, dizia aos outros velhinhos que morrer era natural e quem estava na chuva não tinha como não se molhar.
Ademais, sempre repetia, não era coveiro e sua obrigação era divertir a todos. Foi sócio honorário dos clubes de tiro, motoqueiros, motonautas e mestres de cerimônias de parques de diversão e feiras populares.
Muito querido por admiradores dos quatro cantos da república. Os espertalhões até pensaram na possibilidade de renovar o mandato do dito cujo. Mas a doença mental do tarado avançou da casa dos velhinhos para os jardins de infância de todo o país.
Já no final do seu divertido e arrasador mandato, o “galeguinho do zóio azul”, como diziam as moças e senhoras que por ele tinham tara e os homens com obsessão peniana, já não conseguia mais dissimular a sua preferência pela necrofilia pedófila.
Queria porque queria beber o sangue das criancinhas. Sua preferência era pela faixa dos cinco aos onze anos, muito embora, no fundo da sua tara, também pensasse repetidamente na faixa mais procurada da “deep web”, de 0 a 5 anos.
Os espertalhões se reuniram emergencialmente na casa de um cavalo velho e aposentado para discutir a situação. Não podiam deixar o poder escorrer pelo ralo da loucura.