O valente deputado Mendonça Braga e o marido imprestável
Edberto Ticianeli
O bacharel e professor José Caralâmpio de Mendonça Braga teve uma passagem histórica pela política alagoana, principalmente por seu desempenho nos órgãos de segurança do Estado.
Foi deputado estadual (46-50) e líder do governador Silvestre Péricles. Depois conquistou o mandato de deputado federal (51-54). Como primeiro suplente assumiu a vaga de Muniz Falcão na legislatura de 1955-58.
Fez história como Chefe de Polícia. Foi indicado pelo governador Osman Loureiro em abril de 1936, quando deixou a Instrução Pública.
Seu enfrentamento com os integralistas, entre 1936 e 1937, o levou a ser estigmatizado por parte de segmentos importantes da economia e da política em Alagoas. Foi ele quem liderou a prisão dos seguidores de Plínio Salgado em 30 de dezembro de 1937, colocando na cadeia personalidades como José Oiticica, atitude que o levou, dias depois, a deixar o cargo.
“Foi um escândalo enorme em Alagoas. Ao pedir demissão, os ‘camisas verdes’ promoveram uma grande passeata de desagravo em frente a sua residência e ele assistiu a todo o desfile, sozinho, no portão, com uma metralhadora embaixo do braço. Ninguém teve coragem de soltar uma piada”, noticiou a revista Manchete.
Sobre o combate ao banditismo em Alagoas, deixou alguns indicativos do seu modus operandi em entrevista à revista Manchete de 22 de agosto de 1953. Na reportagem assinada pelo jornalista Aldemar Miranda, foi relacionado como um dos “valentes” da Câmara dos Deputados.
Mesmo tendo uma aparência tranquila e pacata, é “um homem frio e sanguinário”, avaliava o jornalista, lembrando do seu mandato como Chefe de Polícia, quando tinha carta branca para acabar com os ladrões.
Dois meses depois os ladrões desapareceram como por milagre, esclarece a reportagem. “O processo adotado, muito simples, ele contou certa vez, com aquela voz tranquila de quem não tem pecados: ‘ladrão e cabra-safado’ eu não processava. Os meus homens de confiança, quando os prendiam davam um ‘jeito’ neles, na hora. Depois abria-se o inquérito e ficava provado, tudo muito direito, que o sujeito resistira à prisão, etc, etc”.
CLIQUE AQUI E CONHEÇA MAIS SOBRE A FAMÍLIA MENDONÇA NA POLÍTICA ALAGOANA
Pois bem, foi esse Mendonça Braga que certo dia, indo em um ônibus da sua residência na zona sul do Rio de Janeiro para o centro da cidade, se envolveu numa situação em que teve que usar sua “autoridade”.
Nas imediações do Ministério da Educação, uma senhora se dirigiu ao motorista e pediu para que o veículo parasse no próximo ponto.
Como o motorista fazia ouvido de mercador e continuava a viagem, a passageira repetiu o pedido enquanto o ônibus continuava a se distanciar do local pretendido para o desembarque.
Após mais uma solicitação, o motorista fez questão de demonstrar sua falta de profissionalismo:
— Vou parar, minha senhora, mas não enche o saco e salte de uma vez. Não me aborreça mais.
A grosseria deixou a passageira sem jeito e o antigo Chefe de Polícia de Alagoas irritado, motivando-o a tomar uma atitude. Sacou de um potente revólver e se dirigiu ao condutor, ordenando que parasse o transporte imediatamente.
Com o veículo estacionado, segurou-lhe pelo colarinho e o convidou a desembarcar do ônibus:
— Salte para apanhar, seu patife! Como é que você ousa não ser amável com uma senhora?
Claro que o motorista temeu o poderoso argumento, calibre 38, e preferiu ficar calado, mas o tumulto chamou a atenção da polícia, que apaziguou a todos e liberou o veículo para que prosseguisse viagem.
Na calçada ficaram a Polícia, a mulher, seu esposo e Mendonça Braga, que antes de ir embora se dirigiu à passageira agredida para as despedida. Só então percebeu que ela estava acompanhada por um cidadão que durante toda a confusão não abriu a boca.
O alagoano não se conteve:
— Minha senhora, se isso que a senhora tem aí ao lado é seu marido, devo dizer-lhe que isso não é marido que se use…
Virou as costas e saiu caminhando pela Av. Presidente Antônio Carlos.
Parabéns pelo site muito boas histórias 👏👏👏👏👏
parabéns pelo texto da historia politica do nosso estado, aliás, gostaria de conhecer fatos que marcaram época do deputado Claudionor Lima de Arapiraca, cujo perfil semelhante do que o jornalista conta nesse artigo.