Os dois lados da moeda

Miguel Gustavo de Paiva Torres

As duas faces de Juno. As duas caras do seu amigo e da sua vizinha. As duas versões do mesmo fato. As duas caras do Brasil, ou melhor as mil e uma caras do doutor Fu Manchú. Nem tudo é macho e fêmea, nem tudo é preto e branco e nem tudo é rico e pobre. Existem nuances: a miséria, por exemplo, na casa da pobreza, sobressai. O ser humano, entre o macho e a fêmea, é um ser humano.

Essa é a realidade. Não podemos aceitar que certos discursos a desconstruam.

Tudo é importante. O todo é mais importante do que as partes porque é o todo. A minoria faz sempre parte de um conjunto maior. Cem mil não são mais do que cem milhões, por mais significativas que sejam as causas comuns aos cem mil.

A diluição do processo de formação de uma sociedade justa na gelatina das políticas de grupos específicos afasta o foco das questões fundamentais nestes 200 anos de uma sonhada independência, autonomia e soberania do Brasil.

Assim, miséria, fome, doenças, ignorância. império e repúblicas velhas e novas se sucedem sem o menor interesse em focar nas questões fundamentais para a construção de alicerces sólidos na nossa casa comum.

A tática mais utilizada na política sempre foi a de fragmentar, dividir até o último átomo. Discursos, narrativas e atos criam nichos de aderência que levam ao poder. É sempre bom deixar sem solução definitiva as questões fundamentais acima arroladas, porque garantem a continuidade da política profissional. Quanto mais atrasada, carente. desorganizada e faminta uma população, mais fácil de empurrar os seus problemas com a barriga, sempre cheia, e chegar ao fim da vida exercendo o poder.

Qualquer mixaria compra a admiração, lealdade e votos, caso o sistema seja “democrático”. O outro lado da moeda é a ditadura. Aí o buraco é mais embaixo. Você pode até mandar atirar para matar e tudo fica por isso mesmo.

Nestes últimos 200 anos já vimos de tudo neste admirável e exótico Brasil. Figuras bizarras chegaram ao poder nacional pela maioria dos votos dos seus habitantes. Sempre esperançosos de que suas questões fundamentais fossem resolvidas, cumprindo-se as promessas dos palanques.

Sempre existem pequenos avanços. Sempre pequenos e bem administrados pela política para renderem votos, sempre dentro de limites que não permitam o esvaziamento do curral da fome e da miséria.

Enquanto isso, trata-se de outros assuntos para distrair o eleitorado. E são muitos os assuntos: questões de gênero e de raça, ciclistas e ciclovias, motos, armas, patins e patinetes, pets, veganos, BBB, Karol Conká, Pablo Vittar, Anita, Sem Tetos, Sem Terras, Sem Cabeças, Sem Nada. Há muito por fazer. Muito fogo e muita chuva. Vamos votar.

Um comentário em “Os dois lados da moeda

  • 14 de janeiro de 2022 em 12:12
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    Isso mesmo!
    Inclusive, até o ano 2002, observei os candidatos dizendo, nos seus discursos, que: “O Brasil é um país do amanhã”! “O Brasil é um país da esperança!” “O Brasil é um país do futuro!” “O Brasil é um país para o futuro dos jovens de hoje!”. Enfim, sempre promessas que, além de fora de contexto, eram para um amahã de temporal indefinido, e nunca para o hoje (tempo de cumprimento do mandato).

    Por incrível que pareça, o “Brasil do hoje” só veio no governo Lula, porque quando bateu o grande recorde de crescimento socioeconômico dos últimos 40 anteriores ao governo dele, conforme foi dito pelo IBGE. Foi quando nossa economia chegou à sexta potência mundial; a fome foi exterminada, pipocou emprego pra todo lado, bem como programas socias de alta relevância para a população.

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