LIGA CARNAVALESCA em 1997: uma história de independência

Edberto Ticianeli
Foto de capa: Meninos da Albânia no Trio Folha Verde em 1993

*Publicado originalmente na Gazeta de Alagoas de 5 de fevereiro de 1997 (A4 – Opinião), quando o autor era coordenador do Maceió Fest e secretário da LIGA Independente de Blocos Carnavalescos de Maceió.

Nada a comentar sobre o frevo pernambucano, o axé music baiano, o samba carioca, o erótico pagode baiano e tão pouco sobre o emergente boi bumbá amazônico. Todos, com seus prós e contras, estão aí trazendo alegria a multidões em todo o Brasil.

Deixo claro que isso não é fugir à discussão sobre as raízes culturais do nosso carnaval e da necessidade de resistir diante da avassaladora imposição do mercado fonográfico de músicas e coreografias com qualidade duvidosa.

O que quero realçar é que esta importante discussão não pode encobrir o destacado papel que os blocos de trios elétricos tiveram no resgate do carnaval de rua de Maceió.

Os primeiros blocos deste gênero surgiram em meados dos anos 80, quando o tradicional carnaval de rua, abandonado criminosamente pelos poderes públicos, se resumia a poucas e heroicas iniciativas.

Os blocos de trios elétricos aparecem fortemente caracterizados por uma resistência irreverente (Pecinhas de Maceió, Meninos da Albânia, Filhos da Pauta, Pó de Giz, Bonecas da Serraria e Mamãe eu Quero Brahmar).

Não se propõem a uma elitização do carnaval de rua — como muita gente boa pensa —, mas a “popularização” dos carnavais de clubes (que eram pagos). A classe média foi para a rua. É nesse rastro que surgem outros blocos (Caveira, Gela-Goela, Tutti Frutti, Tô-a-Tôa e Cateretê), que incorporam novos segmentos às avenidas.

Descontração e alegria eram as marcas dos foliões dos Meninos da Albânia. Foto de Plínio Nicácio em 1994
Meninos da Albânia em 1994. Foto de Plínio Nicácio

A principal característica destes blocos é que nunca precisaram receber ajuda dos poderes públicos (são sustentados por seus foliões e por patrocínios de empresas privadas). A independência em relação aos órgãos oficiais é, hoje, uma marca da LIGA.

Isso não impede que parcerias sejam montadas com estes setores. Durante a gestão do prefeito Ronaldo Lessa foram acertadas várias parcerias vitoriosas, que continuam com a atual prefeita Kátia Born.

O disciplinamento, por decreto, dos desfiles de blocos de trios elétricos na orla da Pajuçara/Ponta Verde é resultado de esforços da LIGA, Prefeitura, Ministério Público e moradores.

O Carnaval da LIGA (pré-carnaval) já é hoje parte integrante do Carnaval de Maceió. Não esquecendo o importante papel que a LIGA desempenhou para a viabilização do Maceió Fest.

Fazer críticas aos ritmos e às danças, ou ao tipo de carnaval, é justo e até eu mesmo as faço (fui folião da Moleque Namorador). Temo, no entanto, que certos discursos carregados exageradamente de saudosismos tenham, na verdade, um viés conservador.

Fazer carnaval, mexer com emoções e criar momentos de alegria e descontração não podem ser patrimônio exclusivo de um determinado ritmo ou propriedade de modelos específicos de festa.

A LIGA, em sua heterogeneidade, e por isso mesmo nunca dona da verdade, está aberta às discussões e espera continuar a cumprir seu papel no carnaval alagoano.

Edberto Ticianeli

Jornalista e Produtor Cultural. Ex-secretário Estadual de Cultura. Editor dos sites História de Alagoas e Contexto Alagoas.

Um comentário em “LIGA CARNAVALESCA em 1997: uma história de independência

  • 21 de janeiro de 2022 em 10:03
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    A liga teve um papel importante no ordenamento dos desfiles, e o primeiro Carnaval da liga homenageou o eterno Rei Momo SETTON NETO.
    PARABENS TICIANELI PELO RESGATE DAS INFORMAÇÕES, POIS AINDA TEM GENTE PENSANDO QUE O PRE CARNAVAL DE MACEIÓ SURGIU DEPOIS DO ponto da .madrugada.

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