Nô Pedrosa, morreu o último grande anarquista de Maceió

A Praça D. Pedro II e a porta da Biblioteca Pública foram durante muitos anos os espaços do Nô Pedrosa

Edberto Ticianeli – Jornalista

Conheci o Nô Pedrosa em 1964, um pouco antes do Golpe Militar, quando vivíamos momentos políticos turbulentos.

Ele, como meu pai, era militante do Partido Comunista Brasileiro, o PCB. Também tinham em comum serem destacados vendedores do jornal A Voz do Povo, semanário do Partidão.

Forma presos e ficaram na mesma cela. Nô, um estudante tardio, vestia a tradicional farda caqui do Colégio Estadual de Alagoas quando foi detido pelo Dopse.

No início dos anos 70, voltamos a manter contato. O ponto de encontro era a porta da Biblioteca Pública, na Praça D. Pedro II. Lá, conversávamos sobre a retomada do Movimento Estudantil e democratizávamos os poucos livros marxistas que ainda circulavam em Alagoas.

Nô Pedrosa, assassinado na noite de 23 de dezembro de 2017

Nesse mesmo período, participei com ele da missão de convencer o advogado Ruy Sales Costa, um funcionário público municipal de sólida formação marxista, a tratar da saúde para voltar a ter atividade política. Muitas vezes nos reunimos na casa do Ruy, na Rua da Soledade, nº 113, na Ponta Grossa, em extensas conversas sobre as possibilidades revolucionárias. Ruy Costa nos deixou no dia 19 de abril de 1986, aos 47 anos de idade.

Após meu ingresso na Faculdade de Engenharia, em 1975, participamos das articulações para as montagens das chapas que disputavam os Diretórios Acadêmicos. Nô era então estudante de Letras na UFAL.

Como anarquista, não conseguia conviver muito tempo nas organizações estudantis. Mas continuava a professar seu ideário, sempre atento aos acontecimentos e quando me encontrava, conversávamos sobre a situação política e ouvia dele a sua máxima: “temos que reunir o pessoal e pegarmos nas armas”.

Walfredo Pedrosa de Amorim era natural de Santa Luzia do Norte, onde nasceu no dia 7 de setembro de 1939. Filho de Hermes Calheiros de Amorim e Lídia Pedrosa de Amorim, e seus irmãos Valter Pedrosa de Amorim e Waldir Pedrosa de Amorim também tiveram militância política no PCB.

Ficha do Dopse de Nô Pedrosa

Trabalhava nos Serviços Gerais da Escola Municipal Cícera Lucimar, em Mangabeiras, recebendo um salário mínimo por mês. Era um funcionário publico municipal temporário muito querido pelos alunos, professores e por seus colegas servidores.

Nô Pedrosa foi assassinado na noite de ontem (23), conforme o boletim do Centro Integrado de Operações da Segurança Pública (Ciosp). Ele e José Márcio dos Santos Silva, de 39 anos, foram vítimas de disparos de tiros no bairro da Mangabeiras.

Alagoas perde uma das suas personalidades mais emblemáticas, símbolo de um período da nossa história marcado pela perseguição aos democratas e que poucos tiveram a coragem de denunciar e enfrentar.

Nossas homenagens ao camarada Nô Pedrosa!

Nô Pedrosa

Edberto Ticianeli

Jornalista e Produtor Cultural. Ex-secretário Estadual de Cultura. Editor dos sites História de Alagoas e Contexto Alagoas.

7 comentários em “Nô Pedrosa, morreu o último grande anarquista de Maceió

  • 24 de dezembro de 2017 em 21:37
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    Nô era um anjo. Anjo sujo, maltrapilho, feio. Mas foi o ser humano mais desprendido que conheci. Sempre ajudando os outros, o lixo, a escória da sociedade. Os bandidos, os perseguidos. Me dizia que a sua acolhida era a última daqueles jovens que morreriam todos antes de fazerem 30 anos. Vestia roupas que achava no lixão. Cuidava das crianças no Orfanato São José que gostavam dele pois ele não batia nelas. Toda vez que me encontrava despejava por algum tempo sua ira, seus diálogos contidos pela falta de interlocutor, suas histórias que poucos queriam ouvir. Depois eu o levava para comer peixe. Mas herbívoro pois os carnívoros passavam coisas ruins. Tomava sempre um vinho e, na saída, sempre levava comida para os moradores da casa. Vou sentir falta dessa ira santa e simples.

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  • 25 de dezembro de 2017 em 16:35
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    Meu tio Nô Pedrosa será enterrado amanhã, dia 26 de dezembro de 2017. Uma das capelas do Parque das Flores estará reservada para o encontro e homenagem dos amigos e amigas a partir das 12 horas. O enterro será às 16 horas. O corpo seguirá diretamente dos protocolos legais para o sepultamento. Pelas circunstâncias, não será possível o velório. Agradecemos a todos o comparecimento a este ato de homenagem ao Nô Pedrosa.
    Solicito o obséquio de ampla divulgação entre os amigos e amigas.

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  • 25 de dezembro de 2017 em 17:13
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    O Nô Pedrosa foi uma referencia política para a minha juventude. Sempre disposto a uma boa conversa, fechando os olhos para explicar teoria política e fervor revolucionários. O conheci no final da ditadura militar, nos anos 80, quando me aproximei do movimento estudantil em torna da recriação da União dos Estudantes Secundaristas de Alagoas , a UESA. A essa época eu ia à biblioteca pública de Alagoas, especialmente para desfrutar da companhia dele e de outros em acalorados debates, mas também para conversas amenas. O Nô era autor e testemunha da história da resistência à ditadura. Com O Nô aprendi o que é o pensamento Libertário e certamente essa convivência despertou em mim o Anarquista que sou.

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  • 25 de dezembro de 2017 em 23:36
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    Nô pedrosa foi meu vizinho por muitos anos foi aí que conheci aquela figura em que eu já admirava algum tempo.Vi um artista revolucionário que sempre demostrou coragem em seu jeito de expressar sentimentos que comungava com os meus e de muita gente.
    Foi meu companheiro autentico, lembro quando íamos aos coqueteis nas vernissages filar alguns salgadinhos e vinhos importados ,
    sem dúvida momentos inesquecíveis.
    Defensor dos pobres da natureza era era pontos positivos de sua personalidade extrovertida sincera humilde . Um ser diferente que deixa muitas saudades.!
    Nô pedrosa voc é um herói, saudades de seu amigo Abraao

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  • 26 de dezembro de 2017 em 07:50
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    “Morreu”, não. Foi assassinado, provavelmente por grupo de extermínio. Gente com cérebro de AMEBA (que não tem cérebro) que obedece fascistamente ao comando dos intolerantes que lhes pagam para matar. O governo estadual tem que abrir uma investigação séria, que identifique claramente os autores materiais e os PUNA exemplarmente. E a sociedade deve exigir isso. NÔ PEDROSA, PRESENTE!!!

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  • 5 de fevereiro de 2019 em 18:13
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    Pra minha consciência conhece o que era o ANARQUISMO eu morava SÃO MIGUEL DOS CAMPOS e uma vez por semana nos encontrávamos para trocar informações hoje moro no RIO DE JANEIRO estou aqui a 22 anos sou um ANARCO PUNK garças ao NÓ PEDROSA sempre estava lembrando do grande mestre vim saber da sua morte ontem estou muito triste já que esperava um dia nos sentar troca informações sobre PROUDHON BAKUNIN. MALATESTA entre outros grandes ANARQUISTA meu END. Cláudio PUNK rua drumond 34 casa 2 f d s. ORARIA CEP 2103146 Rio de janeiro

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  • 10 de março de 2019 em 08:03
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    Lembra daquela semana de Teatro no Sesc Centro em 2000,Nozinho?Estávamos lá de madrugada assistindo Bodas de Sangue,do Garcia Llorca!Pense num espetáculo!Pois é.Bons tempos,não?Que perda irreparável!Um grande intelectual!
    Durval Felisberto da Rocha.

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