Cumulonimbus, raios, vírus e trovões

Miguel Gustavo de Paiva Torres

Lembro bem do meu estupor em meus dias de vida em Jakarta, capital da Indonésia, o maior país muçulmano do planeta. Dinheiro e nomes de “família” eram os dois principais valores dos milionários residentes no hollywoodiano bairro de Pondok Indah.

Era uma vaga lembrança da mentalidade, no espírito e na fortuna, da pobre e pequena “aristocracia açucareira nordestina”, subespécie dos canavieiros de longa tradição escravocrata na história do Brasil.

Lá, como aqui em passado recente, as fortunas se fizeram, sempre  em nome de “Alah”, com a apropriação do dinheiro público, ocupação ilegal de terras públicas, devastação das florestas e poluição extrema do meio ambiente, derrubada e incêndios propositais de imensas favelas, na calada das madrugadas, para especulação imobiliária residencial e comercial, corrupção sistêmica do judiciário e violência policial, militar e paramilitar.

As elites vivem cercadas de miséria humana e dejetos ambientais por todos os lados, com suas mansões entupidas de “escravos domésticos”, sem direito a nada.

Os que herdamos da proprietária da casa que alugamos na “zona sul” — é sempre na zona sul —, se ajoelhavam para beijar nossas mãos e nos chamavam de “papa” e “mama”. Direitos trabalhistas zero. Estávamos terminando a primeira década do século 21. Entre 2006 e 2009.

Alah, o Grande e misericordioso. Maomé, o profeta que sonhou com o fim da exploração humana e da desigualdade na sua comunidade. O sonho da “Umrah, a coletividade da compaixão e da igualdade entre irmãos, pilar fundamental do islamismo, a ser conquistada com a “Jihad”, a guerra santa contra a opressão e a maldade.

Em nome de Deus. É sempre em nome de Deus que se cometem as piores perversidades do astuto satanás.

Mas aí chega a peste. A pandemia. Ninguém sabe de onde vem. E com o tempo vão caindo, um por um; com dinheiro ou sem dinheiro, com nome de “família” ou sem nome,

A Terra chora, cumulusnimbus, raios e trovões derrubando tempestades nunca antes vista neste e em outros pedaços do agonizante lindo planeta, presente do universo. Um pálido ponto azul na matéria escura da energia incompreendida do que chamam Deus.

Edberto Ticianeli

Jornalista e Produtor Cultural. Ex-secretário Estadual de Cultura. Editor dos sites História de Alagoas e Contexto Alagoas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *