São Putin da última guerra
Miguel Gustavo de Paiva Torres
Dúvida atroz. Qual título colocar neste texto: São Putin da última guerra ou São Putin das eleições?
Vamos entender. Putin é um autocrata. Um ditador, ou melhor, um Czar, na melhor tradição da velha Rússia imperial, que nasceu na Ucrânia e teve sua capital em Kiev.
Moscou veio depois, como retaguarda defensiva estratégica para o império levantado por Catarina, e sua projeção imperialista a partir do porto da Criméia, principal obra de engenharia estratégica e militar da velha Rússia.
Na autocracia russa moderna, como na velha, não existem freios e contrapesos à autoridade absoluta do Czar. Ele autoriza candidaturas ao parlamento e a nomeação dos juízes. Ele, e só ele, chefia as Forças Armadas. Decide a paz e a guerra e tem o poder de aniquilação total: a guerra nuclear.
Verdadeira romaria de políticos em busca de votos em seus países se dirigiu ao trono do czar de todas as Rússias nas últimas semanas, para apresentar seus respeitos e negociar a paz mundial.
Políticos importantes no cenário internacional como o presidente da França, Macron, com sua reeleição ameaçada pela socialista Anne Hidalgo, e outros exóticos como o presidente da Hungria e o presidente da Argentina foram visitar o São Putin de todas as eleições e não o Putin da última guerra, porque só ele e apenas ele decide a guerra final.
Próxima semana Putin vai ter que aturar mais uma visita em busca de votos: receberá o capitão Jair Messias Bolsonaro, o mesmo que jurou fidelidade eterna às bandeiras dos Estados Unidos e de Israel em solo pátrio brasileiro.
Para o Czar, todo esse circo midiático é firula, mas ajuda a mostrar ao mundo sua força e poderio. É palco para reafirmar sua decisão já tomada de apertar o botão nuclear e deflagrar a última guerra. Uma guerra sem vencedores, em suas palavras ditas em alto e bom som.
Biden, presidente que volta a empunhar o estandarte da águia imperial norte-americana, talvez acredite que Putin blefa e que se algo acontecer, acontecerá na periferia europeia e não em solo norte-americano.
Eu, cá com os meus botões, acredito piamente que São Putin não está blefando. França e Alemanha também sabem o tamanho da encrenca. Tentam consertar o estrago feito pela incompetente diplomacia norte-americana, aliás, nunca exerceram a diplomacia. Sempre exerceram o poder mundial na base da força. Com pequenas guerras e conflitos localizados aqui e acolá. Agora, tudo leva a crer que o buraco é mais embaixo no enfrentamento com o Vladimir.