Carnaval de sangue na Ucrânia

Miguel Gustavo de Paiva Torres

É a velha política do ‘Big Stick’— Pau Grande —, que orientou a construção do império global norte-americano na esteira de duas devastadoras guerras mundiais no século passado. O terror de Hiroshima e Nagasaki. A repartição do mundo e o equilíbrio do terror nuclear entre Ocidente e Oriente. Nunca mais, juravam. Está aí. Voltou. Iván, o terrível, reencarnou no psicopata serial killer do Kremlin, Vladimir Vladimirovitch Putin.

O autocrata assassino, menino pobre que subiu na vida em conluio com o crime organizado, porões de torturas, espionagem, assassinatos seletivos e genocídios, aprendeu tudo o que tinha que aprender com os “Falcões” dos Estados Unido da América e, agora, põe em prática suas receitas de controle e destruição dos “inimigos” da ordem liberal e democrática imposta a ferro e fogo no planeta.

Mashe Gessen, editor da revista “The New Yorker” e autor de “Surviving Autocracy” — Sobrevivendo Autocracia —, em entrevista na CNN norte-americana, comentando a quebra da legalidade internacional  pela Rússia de Putin, lembrou que a lei na cabeça dos falcões americanos e do urso do Kremlin é uma ficção das relações internacionais que deve servir somente para ser aplicada aos mais fracos e despossuídos. A retórica dos vencidos pela força bruta, cruel e mortífera das armas, única realidade concreta da “Real Politik” internacional, em todos os tempos.

Gessen citou o bombardeio da antiga Iugoslávia em 1999 pelos Estados Unidos de Bill Clinton e aliados da OTAN, sem autorização legal do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Aliás, nem levaram o assunto para discussão no Conselho. Simplesmente inventaram na hora um conceito novo — direito de proteger —, para liberar o Kosovo às custas de bombardeios generalizados em Belgrado e no resto da despedaçada Iugoslávia.

Um homem honesto e íntegro, o general Colin Powell, foi levado à desmoralização pelo presidente George W, Bush, Dick Cheney e seus falcões de guerra. Mentiram com base em informações falsas da “inteligência” americana sobre a existência de armas de destruição em massa no Iraque e solicitaram autorização do Conselho de Segurança para atacar Bagdá.

Não autorizaram. Bush e OTAN não deram a mínima e invadiram o Iraque. Criaram um vespeiro de terrorismo internacional que desestabilizou, para sempre, o equilíbrio estratégico do Oriente Médio. E por aí vai. Síria, Afeganistão, Iêmen

Vladimir Vladimirovitch Putin era amigo de George W. Bush e aproveitou a onda para exterminar o fundamentalismo islâmico na Chechênia, explodindo em pedaços 200 mil chechenos, vinte por cento da população do território por onde passam os tubos de óleo e gás da Rússia. No Kremlin. Putin instalou o “Poder Vertical”, que significa mando eu e só eu na política da Rússia e na Gazprom, ou seja, na economia.

Conseguiu o inimaginável. Eleger um presidente dos Estados Unidos, Trump, e, por seu intermédio, dominar parte do Partido Republicano e da opinião pública de extrema direita norte-americana, com a “cabeça feita” por fake News e teorias conspiratórias elaboradas em seus laboratórios cibernéticos.

Quem gostou de tudo isso foi o Viktor Orbán na Hungria e o capitão Bolsonaro no Brasil, que passaram a ser fiéis seguidores do “gênio” Putin, como é qualificado por Trump o ditador da Rússia. Também gostam e apoiam o “gênio”, Venezuela, Cuba, Nicarágua, Síria, Belarus, Azerbaijão e outros “ãos”. Por trás das cortinas esconde-se a China de Xi. O pior está por vir.

Edberto Ticianeli

Jornalista e Produtor Cultural. Ex-secretário Estadual de Cultura. Editor dos sites História de Alagoas e Contexto Alagoas.

Um comentário em “Carnaval de sangue na Ucrânia

  • 24 de fevereiro de 2022 em 17:50
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    Miguel, este é o texto mais bem escrito e mais lúcido sobre esse tohu-bohu! Mas fez chover fogo e enxofre dentro de mim!

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