Sargento Tanga, o Lampião da Massagueira

Edberto Ticianeli

Quando Vitor Peixoto se estabeleceu nos Estados Unidos da Massagueira, em Marechal Deodoro, Alagoas, a sua primeira amizade foi com um jovem morador que se apresentou para ajudar nas obras da casa.

— Qual o seu nome?

Cristiano Half —, respondeu o rapaz.

Prestativo e de boa índole, Cristiano foi ficando por ali e logo todos perceberam que ele apresentava lentidão no raciocínio e como gostava de posar de autoridade policial, ganhou o apelido de Sargento Tanga.

Vitor Peixoto costuma dizer que nas suas farras pode até faltar cerveja, mas nunca o amigo Tanga.

— Sem ele, não tem festa.

E assim foi na comemoração junina de 2019, quando todos os participantes combinaram vestir como cangaceiros e cangaceiras.

Pensando em destacar o amigo, Vitor apresentou a ele uma proposta irrecusável:

Tanga, você vai se vestir como Lampião e vai ficar em casa esperando até às quatro horas da tarde. Nessa hora, você pega o cavalo que vou mandar e vem pra cá. Vou levar todo mundo pra porta dizendo que vai chegar uma surpresa. Desça do cavalo com cara de brabo, puxe a combreia e ameace pedindo dinheiro. Vou dar 10 reais e todos vão querer lhe dar também alguma coisa. Vai apurar uns 100 reais.

E assim, no sábado, ainda às nove horas da manhã, já estava o Sargento Tanga devidamente paramentado de vaqueiro, com gibão, guarda peito, perneira e o indefectível chapéu de cangaceiro.

Ao meio-dia ligou para o Vitor:

— Já posso ir?

E assim fez de meia em meia hora, até que às quatro horas montou no cavalo, arrumou os óculos escuros e partiu trotando para a rua vizinha.

Quando dobrou a esquina e viu a recepção montada para ele, sentiu que ali era o seu momento de glória e que merecia uma chegada triunfal. Esporeou o cavalo e disparou rua afora.

Sem maiores experiências na arte de montar, o intrépido cangaceiro resolveu parar o cavalo de repente, na frente de todos para receber os aplausos. Puxou as rédeas com todas as forças e o cavalo respondeu imediatamente ao comando.

Lamentavelmente, vítima da inércia, Sargento Tanga continuou em movimento retilíneo uniforme em direção ao chão, onde se estatelou alguns metros depois.

Vitor correu para socorrê-lo, temendo que tivesse sofrido grave contusão. Conseguiu achar o Tanga no meio da poeira e lhe perguntou:

— Você está bem?

O Lampião improvisado levantou-se com dificuldade e quando viu que o lado direito do seu corpo estava todo arranhado e sangrando, olhou para o amigo e disse:

— Chefe, se eu não fosse bom na montaria ia ser uma queda da “bôba”, viu!

Ajeitou os óculos escuros, que tinha perdido uma das lentes, e caminhou para a casa como se nada tivesse acontecido. Sentou-se na primeira cadeira que encontrou e só se levantou no final da festa, quando não tinha mais ninguém para vê-lo caminhar mancando. Afinal, era o Lampião diante dos seus cangaceiros.

Edberto Ticianeli

Jornalista e Produtor Cultural. Ex-secretário Estadual de Cultura. Editor dos sites História de Alagoas e Contexto Alagoas.

Um comentário em “Sargento Tanga, o Lampião da Massagueira

  • 1 de março de 2022 em 12:07
    Permalink

    Parabéns pelo texto. Uma grata e agradável leitura.

    Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *