Lua em Odessa

Miguel Gustavo de Paiva Torres

Os verdes olhos marinhos de Alena fitaram meus olhos enquanto falava segurando o seu caderninho: — eu sou de Odessa. Conheço o Brasil. Outro mundo — Sorriu, o sorriso do outro mundo.

O céu estrelado e o vento batendo, frio, no meu rosto. A mítica Odessa, de tantas guerras e tantos amores.

Vi a lua nascendo no horizonte do Mar Negro, em Odessa. Não era a lua do céu nordestino com São Jorge e sua lança, montado em seu cavalo branco.

Não foi essa a imagem que vi na lua cheia e alta no céu de Odessa. Nem tampouco a mulher reclinada com sua flor no cabelo, que via, incessantemente, nas noites de luar no México.

Em Odessa, sentia o cheiro da lua. Cheiro de algas do Mar Negro, prateando a noite da Ucrânia, na media luz de um tango de Gardel.

Vejo agora a lua derramando lágrimas de sangue no Mar Negro, tão azul e branco quanto o céu e a neve refletidos nos antigos olhos marejados de Alena.

Não são fogos de artifícios cravando lanças no mar da serenidade.

São mísseis hipersônicos quebrando a lua em pedaços, cavando túmulos para os sorrisos gentis e amorosos de todas as Alenas da Ucrânia. Enterrando, para sempre, esperanças e afetos nas crateras da lua; despencando do céu, em Odessa.

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