Lua de sangue

Miguel Gustavo de Paiva Torres

A primeira vez que vi a lua na sarjeta foi depois da tempestade.

Movia-se tal qual uma lua embriagada dançando depois da chuva na água limpa e transparente que escorria nos meus olhos. Reflexos cintilantes de Vênus e Marte pontuavam os rios de lava incandescente que subiam e desciam no percurso infinito entre as veias do meu coração e a luz refletida em uma parte ainda desconhecida do meu cérebro.

A mesma que se escondeu na neve em madrugada de lua cheia, entre as tuas pernas, braços e seios, congelando o meu sangue e nosso sentimento de amor puro, branco e sonoro como ondas de rádio viajando na matéria escura do universo.

Duende, como dizem na Espanha toureiros cravando lanças em touros cabisbaixos. Como dizem mulheres belas, morenas, selvagens, sapateando flamenco para espantar demônios cachondos escondidos nos recantos mais impuros de suas almas.

Duende, a alma em êxtase transformando água em vinho; iluminando desertos de antigos oceanos, amanhecendo silenciosa no ruído ensurdecedor do sol avermelhado penetrando nossos corpos vivos, gotejando sangue no luar que se foi, na estrela que restou, branca, pura, eterna.

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