Zé Carioca e Carmem Miranda

Miguel Gustavo de Paiva Torres, diplomata

Nos anos 50 e 60, nas asas da Panair ou nas cabines da Varig, a elite do jet set internacional chegava ao aeroporto do Galeão com o mesmo entusiasmo das suas badalações nas Riviera francesa e italiana.

O Rio de Janeiro, ou “Riô”, era o paradigma da sofisticação e do luxo: sol, mar, carnaval, simpatia, e preços de banana. Do Leme a Copacabana. Depois, do Leme a Ipanema, e depois, até o longínquo Leblon. Aprazia mais aos europeus, que gostam do exótico, que aos norte-americanos, que preferem conforto e limpeza, e só entendem inglês.

Mas a fantasia de Carmem Miranda e as criações brasileiras de Walt Disney, com o seu simpático e hospitaleiro Zé Carioca, atraiam muitos gringos também, como eram chamados mais especificamente por aqui os norte-americanos.

Na época, não havia praticamente nada de turismo no Brasil. Um ou outro criminoso foragido da justiça aportava por aqui.

Mas éramos como uma flor estranha no jardim hispânico do continente, com uma imensa população mestiça e negra. As favelas eram consideradas lugares de charme e poesia. O morro era uma canção de bossa e amor, onde nasceu o Orfeu do Carnaval.

A imprensa, rádio e televisão focavam os encantos do país tropical, sua música, paisagens e belas mulheres coloridas nas areias da praia. Mas evitavam o sangue e o horror da miséria que se escondia por trás da fantasia do Copacabana Palace.

Essa miragem se esvaneceu definitivamente depois nos anos 80 e 90, quando o famoso “povão” invadiu a praia e a mídia nacional decidiu promover o sangue e o crime como foco do novo jornalismo brasileiro.

As autoridades verdes e amarelas, que se entronizaram na moderna e decadente Brasília, apostaram, mais uma vez, na abolição de vistos para norte-americanos, canadenses, japoneses, entre outros cidadãos de países ricos. Pretendem aumentar a receita nacional com o turismo e competir, quem sabe, com a Espanha e outros destinos que faturam bilhões com esse setor de serviços gerador de emprego e renda.

Meta para um futuro que não está no horizonte.

No momento a realidade é outra: preços absurdos, assaltos, sangue, terror, guerrilha urbana, esgotos a céu aberto despejados nas ruas, rios e mar. Insegurança pública total: em Recife, ano passado, desapareceram mais de mil armas do depósito central de armamentos da Polícia Civil, entre as quais quatrocentas metralhadoras e centenas de caixas de munições.

No momento, o Brasil se prepara para assistir a um filme de guerra, assustador. Vai ser difícil ressuscitar o tipo malandro do Zé Carioca e o rebolado de Carmem Miranda para atrair os desejados milhões de turistas norte-americanos e canadenses, australianos e japoneses, com visto ou sem visto de entrada.

Nem de graça alguém vai deixar de passar suas férias de praia no belíssimo, bem equipado e seguro Caribe, para levar uma bala perdida no Rio de Janeiro ou ser assado como espetinho em Fortaleza.

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