Embaixador Paiva Torres diz que o mundo inteiro já sabe que Bolsonaro é uma farsa perigosa e violenta

Na última segunda-feira, dia 18 de julho, o presidente Jair Bolsonaro (PL) reuniu chefes de missões diplomáticas acreditadas no Brasil para explicar que pretendia “aprimorar os padrões de transparência” das eleições.

Com esse pretexto, na verdade criticou o Supremo Tribunal Federal, as urnas eletrônicas — novamente sem apresentar provas —, e defendeu a participação dos militares no processo como forma de garantir “eleições seguras”. Essas afirmações surpreenderam os diplomatas, que saíram da reunião convictos de que tinham presenciado o anúncio de um golpe militar.

Para melhor compreender o comportamento dos diplomatas, CONTEXTO ouviu a opinião do escritor e embaixador Miguel Gustavo de Paiva Torres, alagoano de Maceió, que nos seus 43 anos de serviços ao Itamaraty esteve em vários países da África, Europa, América Central e Ásia.

Miguel Gustavo de Paiva Torres é alagoano de Maceió

CONTEXTO – Na reunião com os representantes no Brasil de mais de 70 países, o presidente Bolsonaro desqualificou as urnas eletrônicas utilizadas em nossas eleições, passando a ideia que o Brasil vive um momento de instabilidade. Essa denúncia afeta a avaliação estrangeira sobre o que realmente está acontecendo por aqui?

Miguel Gustavo de Paiva Torres – Todos os países democráticos do mundo conhecem e admiram o sistema eleitoral brasileiro. Há mais de 25 anos enviam delegações oficiais interessadas em conhecer nosso modelo, considerado seguro e eficaz.

Nas Américas, Europa Ásia e África o sistema eleitoral brasileiro é uma referência. Essa fala do presidente do Brasil para embaixadores estrangeiros acreditados em Brasília, e que acompanham de perto a política interna brasileira, só confirma para eles que por aqui estão copiando os mesmos métodos adotados por Trump nos Estados Unidos.

Utilizar mentiras e teorias absurdas para deslegitimar eleições legítimas e seguras é um teatro do absurdo, que infelizmente também envolve violência, desestabilização da democracia e a tentativa de manter o poder pelo uso da força. O discurso do presidente só reforça o que o mundo inteiro já sabe: o governo Bolsonaro é uma farsa perigosa e violenta.

CONTEXTO – Na sua longa caminhada pela diplomacia em vários países e continentes, testemunhou algo semelhante ao que ocorreu entre o presidente do Brasil e os embaixadores?

MGPT – Nunca presenciei nada igual, até porque chefes de Estado e de governos, mesmo em países autoritários, não subestimam a capacidade de observação crítica e objetiva dos embaixadores e representantes estrangeiros em seu país. Essa tentativa de envolvimento do corpo diplomático estrangeiro numa farsa política interna é de um amadorismo inigualável.

CONTEXTO – O Itamaraty, instituição responsável pela diplomacia brasileira e historicamente reconhecida como uma das mais bem-sucedidas do planeta, foi consultado sobre essa reunião?

MGPT – O Itamaraty não participou dessa peça teatral montada e dirigida pela equipe palaciana. A diplomacia brasileira, coerente com o que pratica internacionalmente, não apoia e nem participa de conspirações antidemocráticas e muito menos com a produção e distribuição de fake news. Essa prática do trumpismo já está sendo levada a julgamento nos Estados Unidos. Tanto é assim, que hoje (21) a Associação dos Diplomatas do Brasil (ADB) emitiu nota sobre a confiabilidade e credibilidade internacional do sistema eleitoral brasileiro.

CONTEXTO – A diplomacia brasileira atravessa seu pior momento no governo Bolsonaro? Sua imagem foi arranhada pelas estrepolias do atual governo?

MGPT – O Itamaraty vem sofrendo o mais nefasto ataque em seus 200 anos de existência como instituição do Estado brasileiro. Nos mais de 20 anos de regime militar, conseguiu manter a defesa dos interesses permanentes da nação, atuando em busca das boas relações internacionais, promovendo a paz e pavimentando caminhos para o desenvolvimento económico e social do país.

Historicamente, nem a extrema direita militar conseguiu atingir o Itamaraty do modo desarticulador e destrutivo como o levado a cabo atualmente pela brutalidade e primarismo dos ideólogos de meia-tigela do bolsonarismo.

Edberto Ticianeli

Jornalista e Produtor Cultural. Ex-secretário Estadual de Cultura. Editor dos sites História de Alagoas e Contexto Alagoas.

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