O Grande Porrete

Miguel Gustavo de Paiva Torres

Ninguém duvida que o atual presidente do Brasil é um homem afeito à sua família e ao poder. Também avalio que possa ter sido um bom pai e um bom paraquedista, embora militar rebelde à hierarquia.

Mas, para ser presidente de um país com a história política, econômica e social do Brasil é necessário um fator fundamental, que fez falta ao jovem do interior e ao adulto no Rio de Janeiro e Brasília: o conhecimento de como se relacionam os países do mundo e do funcionamento das engrenagens de poder.

Sem isso, como saber onde encaixar os interesses do Brasil neste quebra-cabeças, um verdadeiro jogo de Lego das relações internacionais.

Ao contrário do pensamento vulgar, que acredita ser a diplomacia apenas uma arte referenciada pela estética da linguagem e do glamour, ela traz em si o que há de mais concreto e cruel na insipidez e frieza da técnica e da psicologia das relações interpessoais, refletidas nas relações entre os Estados, o poder que se insere nas possibilidades de dominar, pela força e pelas palavras.

O domínio da força e da palavra cria a Razão do poder, a Razão de Estado e sua ideologia.

Theodore Roosevelt, que elevou os Estados Unidos ao círculo mundial de poder das potências europeias no primeiro quarto do século 20, elaborou uma técnica que entremeava a candura retórica da bondade da democracia liberal norte-americana com o seu poderio de destruição militar.

Foi a política do “Big Stick” ou Grande Porrete.

Era a maneira de afastar ingleses, franceses, espanhóis e outros europeus do continente americano.

A América para os americanos havia sido o corolário da doutrina Monroe, que orientava a principal diretriz da política externa dos EUA. Franceses, ingleses, espanhóis, alemães e holandeses já haviam repartido entre si a África e a Ásia.

Os Estados Unidos não permitiriam intromissão e posse nas Américas do Norte, Central e do Sul. Mesmo com essa determinação, de baixar o porrete na defesa das américas, os norte-americanos não conseguiram reverter a situação do Canadá, do Caribe, e das três Guianas na América do Sul.

O Brasil, principalmente a Amazônia, sempre foi a menina dos olhos da cobiça norte-americana. Nesse caso, colocaram o porrete de lado e entraram com a candura do discurso político, doutrinando corações e mentes para um empreendimento político conjunto de democracia liberal parlamentar, mercado livre e liberdade civil, essa última só conquistada nos próprios Estados Unidos a ferro, fogo e sangue, nos fatídicos e mafiosos anos 60, que mancharam a história daquele país e repercute até hoje.

Al Capone se apropriou da fórmula e da técnica de poder do presidente Theodore Roosevelt. Para o ilustre mafioso, a conquista de algo se daria sempre com um sorriso nos lábios e um revólver na mão.

Tudo isso para dizer apenas que o Brasil só dispõe de um sorriso nos lábios, aquilo que chamamos de “soft power” nas relações internacionais. O poder de influenciar pelas palavras, pela lei e pelos atos. Não dispõe do revólver de Al Capone.

Por isso, o melhor para o Brasil é não depender do revólver dos outros, porque pode terminar levando uma porretada nas costas. O melhor para o Brasil é ser o Brasil e assim manter relações pacíficas, legais e cordiais com todos, independentemente de ideologias, crenças e raças.

Quando abdicou da possibilidade de desenvolver armas nucleares, o país necessariamente optou por um guarda-chuva de segurança militar e estratégica que está além de sua soberania territorial e autonomia política. Passou a fazer parte do clube dos países ocidentais e a partilhar permanentemente do ideário democrático e liberal que o ressignificou.

Esta foi a mensagem clara e transparente que o Secretário da Defesa norte-americano, Lloyd Austin, expôs esta semana, em Brasília, na reunião continental dos ministros da Defesa das Américas.

O poder militar armado deve estar subordinado ao poder civil legitimado eleitoralmente no processo democrático eleitoral.

O representante do Grande Irmão do Norte veio com a missão específica de avisar que não aceitará o golpe de estado, fantasia que se apoderou do movimento bolsonarista.

Os tempos mudaram. Washington não apoia golpes de Estado.

Com a experiência de um quase golpe interno liderado pelo louco e irresponsável Donald Trump e seu grupo de anarquistas, deixou claro que, por aqui, não validará a cópia brasileira e mal enjambrada que estão planejando nesta terra atrasada e desarmada ao sul do Equador.

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