Política, poder, manipulação e gororobas civilizacionais
Miguel Gustavo de Paiva Torres
Impressiona a visão profética certeira de três grandes intelectuais ocidentais do século XX: Bertrand Russel, Arnold J. Toynbee e George Orwell.
Bertrand Russell, no início da década de 20 do século passado, época em que as opiniões ainda eram manipuladas e impressas somente em jornais e revistas consumidos apenas pelas elites “educadas”, previu em seus Ensaios Céticos a completa manipulação das massas pelas “Fake News”. Antecipou que esse manejo viria a incluir os “educados” e os “assalariados”, como se referia à grande massa da população britânica.
Russell, foi um crítico feroz do fanatismo político e religioso e dos consequentes sistemas educacionais britânico e norte-americano. Segundo ele, sob o manto enganador da democracia, a educação, na Inglaterra e nos Estados Unidos, era absolutamente controlada por diretrizes estatais e religiosas, que não diferiam, para ele, do controle da educação que se fazia no sistema comunista.
Cético sobre as possibilidades do livre pensamento nas democracias ocidentais, Russell previa o que qualificou como avanço da “patifaria política”, por meio da difusão em massa de notícias falsas, transformando a opinião pública em mera opinião publicada pelo partido no poder. A propaganda política, e só ela, controlaria a economia e o pensamento, que deveria ser o adotado pela maioria.
O historiador Arnold Toynbee, que participou das duas guerras mundiais do século XX como diplomata e representou a Inglaterra na Conferência de Paz de Versalhes em 1918, afirmou, em 1958, que as guerras globais no século atual se dariam entre as religiões de Abraão: judeus, cristãos e maometanos, e não entre Estados nacionais.
A visão histórica de Toynbee retirava o protagonismo dos Estados nacionais e o colocava nas civilizações, onde os fatores culturais e religiosos propiciariam a substância do poder político e econômico, da sua gênese à sua extinção.
Em seu livro “A Humanidade e a Mãe Terra”, publicado em 1976, demonstrou de forma clara a finitude dos recursos naturais do planeta e a autodestruição da sociedade industrial no médio prazo. A política e o capital, donos do poder, nunca prestaram atenção ao que disse Toynbee. Ou se prestaram, continuam se fazendo de desentendidos.
George Orwell, transformou em literatura a tirania política que brotaria nas ilusórias democracias ocidentais com o controle tecnológico da informação e a contínua vigilância do pensamento e do comportamento.
Em visita ao Brasil, na década de 50, o historiador Arnold Toynbee, focado historicamente no surgimento, crescimento e queda das civilizações planetárias, foi quem primeiro usou o termo “melting pot” — panela de mistura —, para descrever a gororoba civilizacional e cultural que encontrou por aqui e que se provou ser o ambiente perfeito para a proliferação bacteriana de partidos, igrejas, seitas e comunicadores, numa grande confusão de imitadores de ideias e discursos que contribuem na preservação da pobreza e do atraso material e mental. Imitam, em síntese, a decadência das outras civilizações.