Os que dizem Senhor, Senhor!
Sergio Braga Vilas Boas
Sempre houve, mas a contemporaneidade se excede em nos encher os ouvidos com a ladainha diária acerca de quem defende a família e os valores cristãos. Em geral são os falastrões, quando não violentos e autoritários, que abrem a boca para cuspir moral cristã, e defecar regras para o devido enquadramento de cristãos e infiéis.
Como cristão, entro em estado de estupefação ao saber que existe o cristianismo declaratório: eu declaro que sou cristão! E mais, enquadram os atos alheios dentro dessa lógica declaratória, em que a referência moral é o próprio declarante e não o próprio Cristo. Senão, vejamos:
— Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus, mas sim o que faz a vontade do meu Pai que está nos céus, esse entrará no Reino dos Céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não é assim que profetizamos em teu nome, e em teu nome expelimos o demônio, e em teu nome obramos muitos prodígios? E eu então lhes direi, em voz bem inteligível: pois eu nunca vos conheci; apartai-vos de mim os que obrais a iniquidade. (Mateus, VII: 21-23)
— Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons. Toda a árvore que não dá bom fruto será cortada e lançada ao fogo. Assim pois, pelos seus frutos os conhecereis. (Mateus VII:15-19)
E para não me alongar muito:
— E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas. (Mateus 22:37-40)
O cristianismo (o islamismo também) tem servido de abrigo a toda espécie de violento, falsário, arruaceiro, hipócrita, e pretenso defensor dos fracos e oprimidos. Os registros históricos estão aí para qualquer um consultar os males causados em nome de um cristo ideológico, construído a partir da imagem do próprio agressor, cristo que não apresenta qualquer semelhança com aquele da Boa Nova.
Quando falam de família, eles, os declarantes, esquecem que o Cristo ensinou que dever-se-ia honrar pai e mãe, mas que sua mãe e seus irmãos eram todos aqueles que seguiam a vontade do Pai que estava nos céus (Mateus XII:46-50). Ali Ele disse que sua família não se limitava aos seus parentes carnais, mas ia até àqueles que amavam o próximo como a si mesmo, pois essa, segundo Ele, era a vontade do Pai. Mas, não fechou a porta. Ensinou o perdão e abriu os braços para todos os aflitos.
Cristo não preconizou nenhuma religião. Cristo veio ensinar um comportamento. Veio trazer a Boa Nova, as diretrizes para os que criam no Deus único e até para os que Nele não criam. Deixou claro no sermão da montanha.
Lembremos que foi por escolha dos Fariseus que Ele foi crucificado, pois era visto com reservas e punha em risco sua moral e crenças.
Ainda hoje, como no passado, o nome do Cristo é enlameado pelos mesmos hipócritas das sinagogas, que destilam fel e ódio, e se creem capazes de julgar, assim como julgaram Madalena no passado, e na calada da noite iam ter com os prostíbulos.