As múltiplas realidades
Miguel Gustavo de Paiva Torres
Desde tempos imemoriais que alguns poucos tentam enganar a muitos. Principalmente àqueles que aturdidos pelos próprios sentimentos físicos e mentais de existir, sempre buscaram a verdade ou as verdades.
O Campo de Distorção da Realidade foi tema da extraordinária canção de Joan Baez, “Nasty Man“. Lançada em 2017, denuncia as mentiras, falsidades e maldades do homem, Donald Trump, que queria construir um muro com a sua verdade eleitoral.
O conceito sobre a Distorção da Realidade foi utilizado nos anos 80 por aficionados pela computação para explicar os recursos comunicacionais que davam excepcional poder de convencimento ao “mago” Steve Jobs, que apesar dos seus fracassos e de sua índole autoritária, conseguia se colocar acima de tudo e de todos.
Esse Campo de Distorção da Realidade só era possível porque emissor e receptor acreditavam no mesmo meio e na mesma mensagem. E o meio era a mensagem, simples assim como ensinou MacLuhan.
A verdade, portanto, seria criada e afirmada do mesmo modo que tudo que existe foi criado e afirmado, inclusive nós mesmos.
A distorção da realidade passou a ser assim o principal instrumento de marketing e convencimento de todos por alguns. Entrou na política como um tsunami na última década.
Não se trata mais apenas de distribuir benefícios e promessas de melhoria e bem-estar para o coletivo. Trata-se de criar e afirmar verdades distorcendo o campo de percepção da realidade e dos fatos.
Assim, o que interessa para o convencimento, em busca da conquista do poder e do controle geral, não são as múltiplas realidades dos fatos presentes e passados, mas sim a “verdade que libertará”, a verdade única e absoluta, só possível com o jogo psicológico do medo e da crença. A que ponto chegamos.