Os quatro cavaleiros do apocalipse

Miguel Gustavo de Paiva Torres

Pois é. Na próxima semana o principal Assessor de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jack Sullivan, estará em Brasília para ver com seus próprios olhos e ouvir com seus próprios ouvidos o que está acontecendo no principal quintal dos Estados Unidos nas Américas ao lado do México. Justamente o quintal mais promissor, com um pomar do tamanho da Amazônia.

É praxe mandar alguém vinculado aos serviços de informação norte-americanos fazer uma visita ao Palácio do Planalto logo após a posse de um novo governo. Um “note taker”, habilitado a interpretar o que vê e o que ouve. Não é praxe o próprio Assessor de Segurança Nacional da maior potência do planeta fazer esse tipo de averiguação informativa ainda antes da posse.

Mas a atual transição de poder neste quintal verde e rico não pode afetar os interesses econômicos e estratégicos dos Estados Unidos, já ameaçado em sua hegemonia global por China e Rússia e fragilizado por uma Europa em crise, quase histérica, neste longo inverno da desesperança, em meio ao desespero da Ucrânia, despedaçada.

Aqui na Terra Brasilis sempre tivemos, digo os que não se informam, a impressão de ser ilha, autônoma, folclórica e independente do resto do globo. É o país do sol, carnaval, barzinho, praia e Psol. Uma ilha da fantasia. Pobre, mas alegre e festiva.

Não é bem assim. O Brasil faz parte da geopolítica mundial e, por cultura, religião e mimetismo, está vinculado ao que chamam de hemisfério ocidental. Aliás, o Departamento de Estado dos Estados Unidos não tem uma secretaria para América do Sul, Central, Caribenha ou Latina. Tem uma secretaria para o Hemisfério Ocidental. É a visão da Águia.

O povo mais desinformado, comendo poeira para atender ao culto e aos seus pastores Brasil afora, acredita piamente no juízo final, no apocalipse e nas águas e feijões milagrosos, vendidos com promessa de que vão curar moléstias e abrir caminho para a prosperidade e a riqueza material. Conheci uma senhora em Lisboa que comprou um terreno no céu a um pastor da Igreja Universal do Edir Macedo. Era costureira e tinha estudo.

O Apocalipse e seus quatro cavaleiros assustam bastante os crentes. Nos Estados Unidos, no Brasil e em todo o planeta bíblico. A foice.

Na realidade os quatro cavaleiros do apocalipse real são o Pentágono, o Conselho de Segurança Nacional, a CIA e Wall Street. A inteligência, as armas, a informação e o dinheiro.

Não permitirão a devastação dos seus interesses geopolíticos, econômicos, comerciais e ambientais neste lindo quintal ao sul do Rio Grande, com seus belos canaviais e bananais. Quem manda nos EUA não são os presidentes, sejam eles republicanos ou democratas. Mandam os quatro cavaleiros do Apocalipse.

O que interessa a eles nesta zorra tropical é a estabilidade política para a inclusão social e qualificação produtiva, potencializando esse gigantesco mercado de mais de 215 milhões de habitantes. É a manutenção da ordem e do progresso, garantindo a aliança militar, econômica, financeira e estratégica. Apostaram no Lula uma primeira vez e vão apostar novamente. Os bolsonaristas podem tirar o cavalo da chuva. Atrapalham, e muito, a marcha dos cavaleiros do fim do mundo.

Posso estar enganado, mas tenho a impressão de que este será o discurso suave e gentil de Jack Sullivan.

Enquanto isso, a Copa do Mundo continua.

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