Ameaça de golpe bolsonarista sempre foi conversa mole
Edberto Ticianeli – jornalista
Para surpresa de muita gente, o vice-presidente Hamilton Mourão deixou vazar em entrevista ao jornal Gazeta do Sul, publicada ontem, sexta-feira, 2 de dezembro, uma avaliação que, se era a mesma do governo, fica a certeza de que por lá se sabia o tempo todo que não havia condições para golpe em momento algum.
O que disse o agora senador eleito pelo Republicanos?
“É importante que as pessoas compreendam que não temos liberdade de manobra para uma ação fora da Constituição. Isso redundaria em sanções contra o nosso país e, consequentemente, desvalorização da nossa moeda e aumento de juros e inflação”.
É óbvio que a falta do espaço para manobras contra a Constituição e o temor às sanções internacionais não começaram este ano. Não são constatações conjunturais, principalmente a que revelou o temor às sanções.
Qualquer analista, mesmo com um mínimo de conhecimento sobre a realidade, não tem como realizar qualquer avaliação sobre nosso ambiente político sem levar em consideração as relações políticas e comerciais do Brasil com o mundo.
O tempo todo o mundo do capital deixava claro que não bancaria aventura golpista nenhuma no Brasil, muito menos uma liderada por um insano que externava a todo momento desequilíbrio emocional.
Então, se são verdadeiras essas observações, pode-se concluir que os militantes e milicianos bolsonaristas foram manipulados o tempo todo, transformados numa verdadeira massa de manobra para ajudar a criar instabilidade política e assim subjugar o poder legislativo e, principalmente, o Judiciário, deixando o presidente da República com “liberdade” para se tornar imbatível em qualquer pleito.
Os estrategistas do Planalto não contavam com a reação da opinião pública e principalmente do Judiciário, que deve ter feito a mesma análise do Mourão. Tendo a convicção que não havia condições para ruptura constitucional, Alexandre Moraes liderou as ações que trataram os blefes bolsonaristas como tal. Fez mais um pouco: aproveitou o vazio político para ocupar espaço de poder.
O impressionante é constatar que mesmo depois que a cúpula bolsonarista fugiu da raia, seus seguidores continuaram marchando em frente aos quarteis e entonando desafinadamente hinos à pátria, a Deus e aos extraterrestres.
Como isso vai entrar para a história do Brasil?