Os três mosqueteiros

Miguel Gustavo de Paiva Torres

As Forças Armadas, a diplomacia e a Polícia Federal são as três instituições do Estado que não podem ter suas portas abertas a nenhum partido ou movimento político, seja ele de qualquer lado do espectro ideológico ou religioso. Esta é uma premissa básica do Estado Democrático de Direito. Ademais desses três mosqueteiros da democracia, as carreiras jurídicas e fazendárias de Estado completam a guarda do Estado e do dinheiro público. Um por todos e todos por um.

Essas Instituições não podem ser tocadas pela corrupção de valores ou de benefícios pessoais. Muito menos pela vaidade, seja ela de um anão, de um gigante ou até mesmo de um mito, de ferro ou de papel.

Poucos países ao sul do Equador conseguiram ter o reconhecimento mundial de suas principais instituições de Estado. O Brasil foi o que teve maior relevo e credibilidade no contexto global. Parecia sólido. Mas como dizia o filósofo Karl Marx: “tudo que é sólido desmancha no ar”, inclusive ditaduras.

A ditadura nada mais é do que a permissão de enganar e roubar o coletivo sem conhecimento público e sem acusações. Não é permitido falar nada mais do que o discurso único do partido ou do movimento: comunista universalista ou fascista nacionalista. Ditadura é um caminho de flores, sem espinhos, para os ditadores. Tudo que não estiver de acordo com o discurso e o credo é proibido ou censurado, de preferência, com violência, paredão e pau de arara.

A AFL-CIAO, maior e mais importante central sindical do capitalismo norte-americano e os sociais-democratas europeus, especialmente o alemão, apostaram no sindicalismo do industrializado estado de São Paulo e, juntamente com expressivas forças políticas e intelectuais do Brasil, ajudaram a formular e fundar o Partido dos Trabalhadores (PT). Assim, acreditavam, teríamos uma revolução social, educacional e ética, pacífica e segura, com a inclusão de milhões no patamar da dignidade humana e no processo produtivo nacional, dentro da moldura de um Estado Democrático de Direito.

O primeiro governo Lula apontava para o sucesso da receita. Equilibrista, intuitivo e conhecedor como ninguém do Brasil profundo, contornou os radicais revolucionários, carbonários, ávidos por uma ditadura do partido. Dilma acreditou que poderia avançar no caminho da mudança rápida e radical. Caiu do cavalo.

Foi nesse processo de radicalização que teve início a contaminação e o envenenamento ideológico das Forças Armadas, então renovadas no modelo profissional a que se ativeram até recentemente, e da diplomacia, que passou a privilegiar parcerias ideológicas.

Cozinharam a fogo lento o ovo da serpente, que saiu à luz com a eleição de Bolsonaro, um capitão reformado do Exército brasileiro disposto a implantar uma ditadura personalista, familiar e entre amigos, aproveitando oportunisticamente, e com sucesso, o ódio da classe média brasileira ao Partido dos Trabalhadores, então respondendo por malfeitos enormes nas barras dos tribunais.

Havia então um jogo fácil de jogar politicamente: os incorruptíveis contra os corruptos. Os bons contra os malévolos; Deus contra o Diabo. Essa farsa política consolidava-se com a cópia da novidade das Fake News e das teorias conspiratórias adotada pelo Big Brother, Donald Trump, nos Estados Unidos, com o respaldo de um degradado Partido Republicano e da poderosa máfia evangélica globalizada norte-americana.

Esperto como poucos na política nacional, deu início à desestruturação profissional das Forças Armadas, da diplomacia, das forças de segurança e, principalmente, do pior inimigo interno: a Polícia Federal.

Atacou a todos como um leão faminto em busca do poder absoluto e fantasioso de supremo comandante da Nação. Tocou fogo também nas estruturas fazendárias e jurídicas do Estado, criou uma rede própria de comunicação via celular e computadores. Proibia, subliminarmente — como adoram dizer os militares —, acesso dos seus seguidores à mídia tradicional, principalmente à rede demoníaca da família Marinho, ressuscitando o antigo bordão da esquerda militante: Globo Lixo.

Quase venceu no voto democrático. Agora insiste em atravessar o Rubicão com seus cavalos, tanques e militantes fanáticos, zumbis das Fake News incessantes disparadas por seus filhos e acólitos remunerados para mentir e criar a perversão mental.

Tudo isso para dizer apenas que vai ser difícil recuperar o tom e atitude profissionais das Forças Armadas, do Itamaraty, da Polícia Federal e dos demais órgãos de Estado, corroídos que foram por discursos absurdos, dinheiro fácil e poder de mandar. Se Lula permitir a comédia da repetição dos erros, nada mais salvará este país da tragédia. Ora pro Nobis.

Edberto Ticianeli

Jornalista e Produtor Cultural. Ex-secretário Estadual de Cultura. Editor dos sites História de Alagoas e Contexto Alagoas.

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