A falência da empresa Bolsonaro 

Miguel Gustavo de Paiva Torres

Dediquei uma década da minha vida profissional à África, e o que aprendi é que dificilmente a democracia parlamentar liberal ocidental chegará a vingar no continente africano, por mais pressão que façam os bons samaritanos europeus, ex-donos daquele pedaço do planeta.

Isto porque a tradição milenar é a tradição tribal, fincada nas raízes dos poderes divinos do Rei ou do chefe, e na família. Inclusive na família alargada.

A família tribal é a causa de todas as lutas étnicas fratricidas que os ocidentais não compreendem e não entendem.

A modernização política na África tende a abandonar a lealdade à família alargada no longo prazo, mas jamais, acredito, à família de sangue; muito embora no Togo, por exemplo, o maior inimigo do atual presidente é o seu irmão mais velho, preso, por corrupção, o que parece inverossímil para quem conhece África.

Em 2019, todos assistimos, ao carnaval das andanças paulistas e cariocas do filho querido do presidente da Guiné Equatorial, atualmente o mais longevo ditador africano. Empoderado pelo petróleo e pelo gás que seduziu a Petrobrás e os “amigos brasileiros” da África Negra.

Faure Gnassingbé, atual presidente do moderno Togo, é filho de Gnassingbé Eyadema, o sargento cozinheiro que assassinou, com o apoio explícito dos Estados Unidos, o intelectual fundador da República, Sylvanus Olympio — de família afro-brasileira —, que pretendia estabelecer relações privilegiadas com a Alemanha, país que teve a tutela do Grande Togo até a segunda guerra mundial.

O Grande Togo incluía o atual Benim e parte de Gana, vizinhos terrestres do atual Togo, repartido entre franceses e ingleses no pós segunda guerra mundial, com a desgraça de Hitler e aliados.

Na América do Sul, Perón inaugurou a época do empoderamento feminino, entronizando no poder e no governo Eva e Isabelita, exemplo de sucesso copiado por Nestor e Cristina Kirchner.

No Brasil, famílias de presidentes da República só resultaram em confusão e morte, de Getúlio a Collor. Agora parece que começamos a africanização total da política brasileira. Flávio, Carlos e Eduardo, os irmãos Bolsonaro, aparentemente queriam governar junto com o pai presidente.

Todos dispõem de títulos eletivos e poderiam se restringir aos seus mandatos populares. Flávio no Senado, Carlos na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, e Eduardo na Câmara Federal. Queriam mais. Tudo, se possível.

Carlos é um caso especial. Foi ele que introduziu as redes sociais. as Fake News e teorias da conspiração na comunicação social do pai durante a campanha de 2018, garantindo sua eleição. Continuou a desinformar, dividir e incitar ódio nos quatro anos de devastação protagonizada pelo governo familiar.

Eduardo, por sua vez, prestou enorme desserviço ao pai ao se instalar no centro do poder e da governança do Brasil como verdadeiro tomador de decisões, “kingmaker”, designando ministros, embaixadores e assessores do presidente.

Johnny Figueiredo provocou atribulações na vida e na imagem pública do general João Batista Figueiredo. Paulinho segue aprontando e instigando militares a dar golpe de Estado no país. Lulinha e Luís Carlos também andaram passeando no mapa palaciano brasileiro.

Não deu certo. Não dá certo. Nunca dará certo. Governo é governo e família é família. Nem os africanos ousaram tanto. Nunca mais.

Edberto Ticianeli

Jornalista e Produtor Cultural. Ex-secretário Estadual de Cultura. Editor dos sites História de Alagoas e Contexto Alagoas.

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