Os gatos do Palácio da Alvorada

Miguel Gustavo de Paiva Torres

Em 1990, a administração e assessorias do Palácio do Planalto estavam majoritariamente ocupadas por diplomatas, quase todos convidados pelo então Secretário Geral da presidência, embaixador Marcos Coimbra, cunhado do presidente Fernando Collor, de quem fui o Chefe de Gabinete, em 1990/91, antes de partir para novo posto em Lisboa.

A melhor lembrança que tenho desse período da minha vida profissional foi a de ter conhecido e acompanhado a missão entregue à museóloga Ana Lúcia Barbuda, esposa do diplomata Almir Barbuda, ambas pessoas de fino trato.

Ana Lúcia, lamentavelmente faleceu precocemente há alguns anos. Culta, inteligente, amável e especialista reconhecida e admirada na sua área profissional, não apenas parecia, mas era, sim, um ser superior em sua alma. Recebeu o encargo de instalar, para sempre, uma coleção de arte brasileira no Palácio da Alvorada, símbolo máximo dos sonhos e esperanças do modernismo brasileiro.

Do barroco à arte contemporânea, a museóloga, acompanhada por pequena equipe, percorreu todos os órgãos do Governo Federal para fazer o inventário e reconhecimento das obras de arte que pudessem compor uma coleção representativa da arte brasileira no Palácio da Alvorada.

Conseguiu maravilhas que estavam expostas e maravilhas esquecidas em depósitos.

Viajou também pelo Brasil para conseguir representatividade artística regional e nacional para o seu projeto.

Tive a honra e o privilégio de acompanhar Ana Lúcia, com meu colega diplomata Roberto Ardenghi, para uma viagem ao meu estado natal, Alagoas, o mesmo da conterrânea família de Arnon de Mello, pai do presidente.

Para nos guiar e orientar em Alagoas procuramos o pintor e colecionador de obras de arte, Pierre Chalita, e sua luminosa esposa, poetisa e escritora, Solange Lages. Ana Lúcia ficou encantada com o que viu e ouviu na Fundação Pierre Chalita, então recém-inaugurada em Maceió.

Amiga de dona Leda Collor, mãe do presidente, Solange convenceu Pierre a fazer também uma doação ao Palácio da Alvorada. O barroco era parte expressiva do acervo da Fundação.

Foi uma alegria, esperança e orgulho ver aquela coleção de arte reunida por Ana Lúcia passar a fazer parte da residência dos presidentes do Brasil. Para sempre, imaginei.

Foi um toque mágico de arte e bom gosto.

Confesso que estou curioso. Tsunamis, furacões, enchentes, incêndios, cachorros e gatos roedores, o que aconteceu?!!! Onde foi parar a coleção? Quem supervisiona o patrimônio do Palácio dos presidentes do Brasil? O patrimônio do povo brasileiro.

Um comentário em “Os gatos do Palácio da Alvorada

  • 7 de janeiro de 2023 em 16:27
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    Lastimável esse descaso com as obras de arte do Palácio da Alvorada. É obrigação do governo prestar contas do destino desse acervo.

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