A árvore do mal
Miguel Gustavo de Paiva Torres
Cortar o mal pela raiz. As raízes que se comunicam, alimentam-se e retroalimentam-se por debaixo da terra, seca, alagada ou contaminada. Arrancar as ervas daninhas e as raízes do mal.
O que a maioria de todos nós desejamos, pobres e muito pobres, remediados, médios e ricos, de boa consciência, é a comida na mesa, a vacina no braço, os remédios na caixinha, a escola que ensina a viver e o hospital que nos acode nas tragédias e nas doenças.
Viver e morrer com dignidade. Todos os animais têm dignidade. Inclusive o animal humano.
Basta ver o cachorro ciscando na calçada de cimento para esconder os seus resíduos orgânicos e deixar o caminho limpo para os demais caminhantes: — Então a pergunta é: por que os animais humanos não se importam com a dignidade dos seus semelhantes?
A única explicação que me vem à cabeça e ao estômago ruminante é a de que as boas consciências preferem viver de fantasias e ilusões.
Palavras que construíram a torre de babel da humanidade, perversa e injusta, desde o momento em que aprendemos a mentir e a enganar nossos semelhantes.
Dominar e mandar é o objetivo que nutre a raiz humana, disfarçada de boa alma no espaço universal das criaturas vivas.
Para isso, os humanos criaram histórias, mitos, música, literatura, poesia, cinema e matemática. Algoritmos da percepção.
Se você vê assim, se assim ouve, lê e entende, é porque é assim, foi assim e será assim. Porque assim quero e assim desejo. Desejo acreditar. A vida se transformou em narrativas.
Cada qual elege sua narrativa preferida, dentre as milhares existentes no mercado mundial das ações humanas; guerra, paz, sexo, poder e dinheiro, essa abstração da dominação das hordas pelo príncipe e sua corte, eleitos ou não pelos votos em suas narrativas.
Triste é a noite indecifrável onde habitam as estrelas e morrem de fome e de pestes animais, plantas, água e gente infectadas pelas raízes do mal.